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Europa e EUA, uma parceria entre os valores e os interesses

As incertezas na relação transatlântica concentram-se sobretudo nas áreas económica e da defesa. Durão Barroso salientou que a Europa é menos competitiva do que os EUA e a China nos domínios da tecnologia e da inovação.

26 de Junho de 2025 às 15:00
Durão Barroso discursa na conferência sobre Europa e EUA, em Lisboa
Durão Barroso discursa na conferência sobre Europa e EUA, em Lisboa Sérgio Lemos
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Para Durão Barroso, a questão essencial é saber se a relação entre os EUA e a Europa assenta em valores ou apenas em interesses.

O momento das relações transatlânticas entre a Europa e os Estados Unidos “não é muito bom”, reconheceu José Manuel Durão Barroso, curador da conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now. “Há dificuldades que não podemos ignorar, há questões de confiança.”

A este clima de desconfiança transatlântica junta-se um cenário complexo, marcado pela competição global entre os EUA e a China, pelos efeitos da pandemia, pelo aumento do protecionismo e, sobretudo, pela invasão da Ucrânia pela Rússia, que Durão Barroso qualificou como um “evento transformador”.

Para o antigo presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro de Portugal, a relação atlântica inclui não só a União Europeia como também o Reino Unido, o Canadá e a Noruega, “que não devemos esquecer quando falamos sobre a relação atlântica, que não é somente sobre a União Europeia e os EUA”.

As incertezas nesta relação agudizam-se sobretudo nas áreas da economia e da defesa. Para um verdadeiro amigo dos Estados Unidos e atlantista como Durão Barroso, a questão essencial é saber se a relação entre os EUA e a Europa “é baseada em valores ou apenas em interesses”.

Talvez o Ocidente, como o conhecíamos, não seja mais o mesmo, mas talvez ainda possamos fazê-lo grande de novo. José Manuel Durão Barroso , Curador da conferência The Lisbon Conference, Antigo Presidente da Comissão Europeia e Ex-Primeiro-Ministro de Portugal

Referindo-se à política externa dos EUA, afirmou que “o presidente Trump é conhecido por ser transacional. Muitos dos meus amigos nos EUA dizem para não escutar o que ele diz, olhem para o que ele faz. No final, o que ele quer é uma Europa mais forte, a trabalhar conjuntamente com os EUA. Atualmente, estes têm outras prioridades, olham mais para o Pacífico e a Ásia.”

Responsabilidade da UE

Durão Barroso acentuou ainda que “a nossa relação com a NATO foi baseada em valores comuns. Várias gerações nasceram e cresceram com uma ideia de cumplicidade entre os EUA e a Europa. Hoje, não há tanta cumplicidade sobre valores, mas, sobretudo, negociações sobre interesses”. Sublinhou também a necessidade de a Europa refletir sobre a sua autonomia estratégica, defendendo que “a União Europeia não deve mais ser o adolescente geopolítico e deve assumir as suas responsabilidades”.

Na política económica europeia, o antigo presidente da Comissão Europeia identificou áreas onde, no seu entender, a responsabilidade pelos atrasos é interna. “Não é devido aos EUA que a Europa ainda não tem uma união bancária ou de mercados de capitais, e continua com 27 mercados de capitais porque alguns políticos europeus não gostam de capital, ou não gostam de mercados, ou não gostam de união. Não é pelos EUA que não temos mais tecnologia, investimentos e ciência, ou uma política mais articulada em termos de energia. A Europa está a perder a competição com os EUA e com a China, nomeadamente nos domínios da tecnologia e da inovação”, considerou Durão Barroso.

No plano energético, afirmou que a Europa é o maior importador de energia, enquanto os Estados Unidos são agora o maior exportador, sublinhando as implicações estratégicas dessa diferença. No campo da inteligência artificial, destacou que “a Europa está atrás dos Estados Unidos e da China”, e acrescentou que “esta revolução na inteligência artificial é dez vezes mais importante do que a revolução industrial e é dez vezes mais rápida”.

Durão Barroso afirmou que “a imigração mostra o limite do multiculturalismo” e alertou que, “se não tivermos políticas modernas e independentes sobre a imigração, podemos ter a ameaça de mudança”. Enfatizou a importância de envolver os cidadãos nas decisões das políticas públicas, especialmente num contexto de polarização e incerteza.

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