
O debate “Economia e Comércio Europeus” contou João Aguiar Machado, embaixador da União Europeia na OMC e Manuel Muñiz, pró-reitor da Universidade IE, com a moderação de Miguel Frasquilho, coautor do programa Economia Sem Fronteiras.
“A integração do mercado único é condição prévia para qualquer esforço em prol de uma Europa mais competitiva. É hoje uma questão a nível europeu”, afirmou Enrico Letta numa intervenção em vídeo, realizada no debate “Economia e Comércio Europeus”, integrado na conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now.
Para o antigo primeiro-ministro de Itália e autor do relatório sobre o futuro do mercado único da UE, encomendado pelo Conselho Europeu, existem setores como as telecomunicações, os mercados financeiros e a energia que, teoricamente, vivem num mercado único, o mercado das quatro liberdades, de bens, serviços, capitais e pessoas. Mas, na realidade, nestes três setores, “vivemos em 27 mercados nacionais”.
Enrico Letta acrescenta que a falta de um mercado único integrado, com os respetivos custos da não integração e da fragmentação, leva à saída de capitais e de emprego para fora da Europa. “É a forma de ajudar outros países concorrentes a atrair investimento, porque estão menos fragmentados, podem aumentar a escala”. Na sua intervenção, salientou que uma das possibilidades da União de Poupança e dos Investimento é canalizar, para além do financiamento público, fundos privados para o investimento em I&D, por exemplo, como acontece nos Estados Unidos. “O grande sucesso dos EUA na inteligência artificial ou no espaço deve-se principalmente à mobilização de capitais privados na inovação. Por isso é que defendo a ideia da quinta liberdade, do conhecimento, que é da investigação, das competências, da inovação”, disse Enrico Letta.
Integração e abertura
“Uma integração mais profunda do mercado interno e o compromisso da União Europeia de abrir os mercados no estrangeiro não são antagónicos. Andam de mãos dadas para que a economia da União Europeia seja mais competitiva e mais inovadora”, afirmou João Aguiar Machado, embaixador da UE na Organização Mundial de Comércio (OMC).
Sobre o esforço de integração do espaço europeu, Manuel Muñiz, pró-reitor da Universidade IE, citou um artigo de Mario Draghi no Financial Times, “no qual estima que as barreiras internas ao comércio na Europa equivalem a uma tarifa de cerca de 45% sobre os bens e mais de 100% sobre os serviços”.
João Aguiar Machado salientou que União Europeia é um parceiro comercial importante, que representa 16% do comércio mundial, enquanto os Estados Unidos e a China valem, cada um, 13%. “Somos muito mais dependentes do comércio para a nossa prosperidade do que as outras potências. No caso da União Europeia, 45% do nosso PIB é gerado pelo comércio, contra 37% na China e 25% nos Estados Unidos.” O embaixador da UE na OMC considera esta abertura uma vantagem porque se prevê que, pelo menos nas próximas quatro décadas, mais de 90% do crescimento económico mundial seja gerado fora da Europa. “O que significa que, para que a UE continue a prosperar, para garantir o nosso modelo social, temos de estar ligados ao mundo exterior”. Neste sentido, defende que a União Europeia deve continuar a diversificar as suas relações comerciais, e deve assumir um papel de liderança na reforma da Organização Mundial do Comércio.
Ensino superior global
“O ensino superior tem sido objeto de mudanças políticas muito severas ao longo dos últimos anos. A maior parte delas aponta no sentido de restringir o ensino superior global”, afirmou Manuel Muñiz, dando como exemplos os limites e alterações nas condições para estudantes internacionais em países como a Austrália, o Canadá, o Reino Unido ou os Estados Unidos. “Há um questionamento do ensino superior global”. A este cenário juntam-se as ingerências na autonomia das universidades em países como na Hungria, Turquia, Índia e também os EUA. “O que está a acontecer à educação assemelha-se um pouco ao que está a acontecer no comércio e na migração”, considerou.