O debate “Como se adaptam as marcas de luxo às diferentes gerações?” contou com Nuno Saraiva, Eduardo Martins, e Inês Baptista da Câmara, com moderação de Rosário Castro, diretora da Máxima.
A adaptação das marcas de luxo às diferentes gerações foi um dos temas em debate na “Grande Conferência Negócios do Luxo”, organizada pelo Negócios e pela Must, com o apoio do município de Cascais como anfitrião e do Sheraton Cascais Resort como hospitality partner. Este painel contou com a participação de três representantes de áreas distintas: Nuno Saraiva, general manager da Divisão de Luxo da L’Oréal, Eduardo Martins, brand specialist da The Macallan Portugal, e Inês Baptista da Câmara, CEO do Studio Astolfi. A moderação ficou a cargo de Rosário Mello e Castro, diretora da Máxima, e a conversa abriu com uma questão sobre o impacto das mudanças económicas no setor da beleza. Nuno Saraiva foi claro. “A indústria da beleza não está a ser afetada de forma negativa. O mundo está cada vez mais rápido, e vivemos com tendências a ritmos diferentes.” O responsável da L’Oréal Luxe destacou que, apesar da recente retração no mercado chinês, a Europa e os Estados Unidos estão a demonstrar resiliência e crescimento. “Portugal e Espanha são, neste momento, quase um oásis na Europa”, afirmou.
Este panorama de contrastes obriga a uma adaptação estratégica: “Somos uma empresa global e, por isso, temos de ter um portefólio global. Dentro da nossa divisão de luxo, 80% das marcas não estão disponíveis em Portugal, analisamos as tendências e decidimos caso a caso.”
Também Eduardo Martins, da The Macallan, abordou as mudanças no comportamento do consumidor. Após um pico de consumo no período pós-pandemia, “2023 foi um ano atípico e difícil de repetir”. Ainda assim, o otimismo prevalece. “Estamos a conseguir colocar no mercado produtos mais exclusivos.”
Criatividade com tempo e identidade
Inês Baptista da Câmara trouxe ao debate a visão do Studio Astolfi, um atelier de design e arquitetura que trabalha entre o luxo, a arte e a portugalidade. “Fazemos as coisas de forma lenta e o que nos define é a atenção ao pequeno detalhe.” Inês realçou a importância de um equilíbrio entre o lado financeiro e o artístico, criando equipas nas quais arquitetos e artistas trabalham em conjunto desde o início. “Sou a connector, junto mundos que normalmente não se cruzam.” Para a CEO, o espaço físico ganhou novo significado com a pandemia. “As novas gerações valorizam os espaços em que vivem. Querem sentir-se em comunidade, falar a mesma língua.” E o desafio é claro. “Temos de criar o ‘bichinho’, o desejo, e reforçar a linguagem artística. As novas gerações querem conhecer os designers portugueses.”
Fazer, mais do que comunicar
O tema da sustentabilidade atravessou a conversa e revelou abordagens distintas, mas convergentes. Na L’Oréal Luxe, Nuno Saraiva explicou que grande parte do esforço é feito de forma transversal a todo o grupo, com cada marca a atuar em causas específicas. Já Inês Baptista da Câmara frisou a ligação à portugalidade e à comunidade como eixo da sustentabilidade no seu estúdio: “Fazemos tudo com base no que é local, no que é nosso.”
Eduardo Martins, por sua vez, partilhou os esforços da The Macallan. “95% da energia usada na destilaria é de origem sustentável.” Ressaltou que a água é tratada antes de voltar ao rio, para não afetar o ecossistema. Além disso, o packaging é reciclado e estão a testar materiais mais ecológicos. Ainda assim, assume: “Acreditamos que a sustentabilidade é algo que se faz mais do que se comunica.”
Questionados sobre o futuro do luxo, todos concordaram que o caminho passa por equilibrar tradição e inovação e, sobretudo, por compreender os novos consumidores. Para Nuno Saraiva, o mercado está a mudar com o surgimento de marcas indie e de nicho, muitas vezes impulsionadas por fenómenos nas redes sociais. “Hoje, um produto pode ser redescoberto por alguém online e explodir nas vendas. Nem sempre faz sentido criar coisas novas se o que já existe tem qualidade.” Inês reforçou a ideia de comunidade e identidade, referindo que “todas as gerações querem encontrar a sua linguagem. Hoje há excesso de informação, e de desinformação. O desafio é criar algo verdadeiro.”