pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Gerações em mudança, valores em transição: como se adapta o luxo ao futuro?

Como responder às exigências de diferentes gerações num setor onde tradição e inovação se cruzam a cada passo? Criar experiências relevantes, reforçar a identidade criativa e adaptar o discurso às novas linguagens são hoje prioridades de um luxo cada vez mais atento à sustentabilidade, à comunidade e à autenticidade.

01 de Julho de 2025 às 15:00
Debate sobre adaptação das marcas de luxo às novas gerações em Cascais
Debate sobre adaptação das marcas de luxo às novas gerações em Cascais Bruno Colaço
  • ...

O debate “Como se adaptam as marcas de luxo às diferentes gerações?” contou com Nuno Saraiva, Eduardo Martins, e Inês Baptista da Câmara, com moderação de Rosário Castro, diretora da Máxima.

A adaptação das marcas de luxo às diferentes gerações foi um dos temas em debate na “Grande Conferência Negócios do Luxo”, organizada pelo Negócios e pela Must, com o apoio do município de Cascais como anfitrião e do Sheraton Cascais Resort como hospitality partner. Este painel contou com a participação de três representantes de áreas distintas: Nuno Saraiva, general manager da Divisão de Luxo da L’Oréal, Eduardo Martins, brand specialist da The Macallan Portugal, e Inês Baptista da Câmara, CEO do Studio Astolfi. A moderação ficou a cargo de Rosário Mello e Castro, diretora da Máxima, e a conversa abriu com uma questão sobre o impacto das mudanças económicas no setor da beleza. Nuno Saraiva foi claro. “A indústria da beleza não está a ser afetada de forma negativa. O mundo está cada vez mais rápido, e vivemos com tendências a ritmos diferentes.” O responsável da L’Oréal Luxe destacou que, apesar da recente retração no mercado chinês, a Europa e os Estados Unidos estão a demonstrar resiliência e crescimento. “Portugal e Espanha são, neste momento, quase um oásis na Europa”, afirmou.

Este panorama de contrastes obriga a uma adaptação estratégica: “Somos uma empresa global e, por isso, temos de ter um portefólio global. Dentro da nossa divisão de luxo, 80% das marcas não estão disponíveis em Portugal, analisamos as tendências e decidimos caso a caso.”

Temos de criar o ‘bichinho’, o desejo, e reforçar a linguagem artística. As novas gerações querem conhecer os designers portugueses. Inês Baptista da Câmara, CEO do Studio Astolfi

Também Eduardo Martins, da The Macallan, abordou as mudanças no comportamento do consumidor. Após um pico de consumo no período pós-pandemia, “2023 foi um ano atípico e difícil de repetir”. Ainda assim, o otimismo prevalece. “Estamos a conseguir colocar no mercado produtos mais exclusivos.”

Criatividade com tempo e identidade

Inês Baptista da Câmara trouxe ao debate a visão do Studio Astolfi, um atelier de design e arquitetura que trabalha entre o luxo, a arte e a portugalidade. “Fazemos as coisas de forma lenta e o que nos define é a atenção ao pequeno detalhe.” Inês realçou a importância de um equilíbrio entre o lado financeiro e o artístico, criando equipas nas quais arquitetos e artistas trabalham em conjunto desde o início. “Sou a connector, junto mundos que normalmente não se cruzam.” Para a CEO, o espaço físico ganhou novo significado com a pandemia. “As novas gerações valorizam os espaços em que vivem. Querem sentir-se em comunidade, falar a mesma língua.” E o desafio é claro. “Temos de criar o ‘bichinho’, o desejo, e reforçar a linguagem artística. As novas gerações querem conhecer os designers portugueses.”

Fazer, mais do que comunicar

O tema da sustentabilidade atravessou a conversa e revelou abordagens distintas, mas convergentes. Na L’Oréal Luxe, Nuno Saraiva explicou que grande parte do esforço é feito de forma transversal a todo o grupo, com cada marca a atuar em causas específicas. Já Inês Baptista da Câmara frisou a ligação à portugalidade e à comunidade como eixo da sustentabilidade no seu estúdio: “Fazemos tudo com base no que é local, no que é nosso.”

Produzir com qualidade, manter a essência da marca e, ao mesmo tempo, criar experiências para atrair as gerações mais jovens. Eduardo Martins, Brand Specialist da The Macallan Portugal

Eduardo Martins, por sua vez, partilhou os esforços da The Macallan. “95% da energia usada na destilaria é de origem sustentável.” Ressaltou que a água é tratada antes de voltar ao rio, para não afetar o ecossistema. Além disso, o packaging é reciclado e estão a testar materiais mais ecológicos. Ainda assim, assume: “Acreditamos que a sustentabilidade é algo que se faz mais do que se comunica.”

Hoje, um produto pode ser redescoberto por alguém online e explodir nas vendas. Nem sempre faz sentido criar coisas novas se o que já existe tem qualidade. Nuno Saraiva, Market Director da L’Oréal Luxe

Questionados sobre o futuro do luxo, todos concordaram que o caminho passa por equilibrar tradição e inovação e, sobretudo, por compreender os novos consumidores. Para Nuno Saraiva, o mercado está a mudar com o surgimento de marcas indie e de nicho, muitas vezes impulsionadas por fenómenos nas redes sociais. “Hoje, um produto pode ser redescoberto por alguém online e explodir nas vendas. Nem sempre faz sentido criar coisas novas se o que já existe tem qualidade.” Inês reforçou a ideia de comunidade e identidade, referindo que “todas as gerações querem encontrar a sua linguagem. Hoje há excesso de informação, e de desinformação. O desafio é criar algo verdadeiro.”

Mais notícias