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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Há sempre empresas resilientes ao bear market

O atual contexto é de um ciclo longo de crescimento do preço das ações num contexto de taxas de juro muito baixas. O conselho de António Seladas e Rina Guerra é ter cautela.

02 de Dezembro de 2019 às 13:00
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Nos últimos cinco anos, o mercado americano tem feito melhor que o mercado europeu e está com valorizações mais elevadas pelo que poderá ser uma oportunidade para o mercado europeu no próximo ano, considera Rina Guerra. "O mercado americano está cada vez mais caro e não sei até que ponto os investidores estão dispostos a pagar um múltiplo que historicamente não é sustentado. A única coisa que justifica isto é as taxas de juro estarem em níveis que estão. Se tudo se mantiver há condições para os mercados acionistas continuarem a subir", disse Rina Guerra, Gestão de Ativos - Ações do Banco Carregosa.

O mercado de capitais, sobretudo de ações, encontra-se num ciclo anormalmente longo, como define António Seladas, Equity Analyst, AS Independent Research, que vem desde 2015. "O que cria um conjunto de incertezas porque trabalhar um ciclo tão longo é diferente do que estamos habituados e, à medida que o ciclo se alonga, tendemos a pedir múltiplos mais baixos porque a ansiedade tende a crescer. Mas não é isso que acontece e, muitas vezes, sucede o contrário", analisa António Seladas.

Em 2019 foram, segundo António Seladas, as taxas de juro baixas a puxar pelos mercados. Referiu que quando se utilizam métricas que têm em conta as taxas de juro baixas, os mercados não se encontram caros. Quando se utilizam os múltiplos, que não têm em conta as taxas de juro como o PER e o PER a dividir pelos resultados, a perspectiva de crescimento dos resultados, o mercado já não está tão favorável. "Está a transacionar numa média de 17,5 para 15 de longo prazo contra uma média de 16 de curto prazo", explicou.

Resultados 0%

Na perspetiva de António Seladas, o problema que se coloca para 2020 é que os múltiplos começam a sofrer porque a estimativa de resultados para 2019 era, no início do ano, de 10% e agora é de 0%. Para 2020 é cerca de 9% mas daqui a um ano será 0%, porque é difícil que os resultados das empresas cresçam 10%, doze anos depois do Lehman Brothers, quando os resultados se multiplicaram por três, 60 dólares para 120 dólares, e os múltiplos por quatro vezes.

"Temos de gerir a situação, não há posições absolutas por causa dos múltiplos. Múltiplos de 16, 17 vezes tendo em conta que o retorno em obrigações é tão baixo, embora nos Estados Unidos não seja tão baixo como isso e ainda se compra dívida a 3 ou 4%. No mercado de ações americano até fevereiro, março de 2020, porque se, nessa altura, tiver subido 5 ou 10% é preciso ter cautela, porque se começa a trabalhar com múltiplos de 18 vezes, é um ciclo muito longo, inesperado e sobre o qual não temos experiência e a que se juntam as taxas de juro tão baixas", argumentou António Seladas.

Cautela com o mercado é também o conselho de Rina Guerra, e assim "privilegiar empresas que tenham modelos de negócio sólidos, tenham robustez de balanço, que haja alguma visibilidade sobre os resultados que vão apresentar. Com bear market ou não, sei que este tipo de empresas vai resistir melhor. Com bear market cai tudo mas há refúgios, há empresas que vão ser mais resilientes ao ciclo".

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