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Luxo e imobiliário: o impacto de um novo olhar sobre Portugal

Portugal afirmou-se como destino de excelência no mercado imobiliário de luxo, atraindo investidores e marcas globais. Entre desafios estruturais e novas oportunidades, o debate centrou-se na importância de apresentar qualidade, autenticidade e experiências de valor acrescentado.

01 de Julho de 2025 às 15:30
Debate sobre negócios de luxo e imobiliário em Portugal
Debate sobre negócios de luxo e imobiliário em Portugal Bruno Colaço
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António Ribeiro da Cunha, Carlos Leal, Helena Amaral Neto, Nuno Durão, e Diana Ramos, no debate “O impacto do luxo no real estate”.

O luxo já não se limita a produtos, estende-se à forma como vivemos, ao local onde escolhemos e à experiência que procuramos nesses espaços. No painel “O impacto do luxo no real estate”, incluído na “Grande Conferência Negócios do Luxo”, organizada pelo Negócios e pela Must, com o apoio do município de Cascais como anfitrião e do Sheraton Cascais Resort como hospitality partner, discutiu-se como Portugal se reposicionou, ao longo da última década, como destino de referência para o imobiliário de luxo. Participaram António Ribeiro da Cunha, CEO da Mello RDC; Carlos Leal, general manager da United Investment Portugal; Helena Amaral Neto, fundadora da Luxulting, e Nuno Durão, managing partner da Fine & Country Portugal), e que contou com a moderação de Diana Ramos, diretora do Negócios.

Esse público chegou. Está interessado neste novo Portugal, mas temos de saber quem são e como vivem. Nuno Durão, Managing Partner da Fine & Country Portugal

O crescimento começou a ganhar força em 2012/2013, quando investidores estrangeiros começaram a olhar para o país com outros olhos. Desde então, a diversidade de nacionalidades interessadas aumentou significativamente: de ucranianos e russos, até iranianos. O luxo imobiliário, sobretudo nas zonas prime, passou a ser dominado por compradores estrangeiros com perfis exigentes e expectativas elevadas. Nuno Durão, com uma visão de mercado consolidada, confirmou a mudança: “Esse público chegou. Está interessado neste novo Portugal, mas temos de saber quem são e como vivem. Em zonas prime, como Mayfair em Londres , é natural que o mercado seja dominado por estrangeiros. E connosco passa-se o mesmo.”

Não basta captar investimento, importa definir quem queremos atrair. A prioridade deve ser a qualidade, não a quantidade. Helena Amaral Neto, Fundadora da Luxulting

Este fenómeno não surgiu por acaso. Como referiu Helena Amaral Neto, o contexto económico da crise foi, paradoxalmente, uma “tempestade perfeita” que abriu espaço a novas oportunidades. Mas hoje, diz, é preciso ir mais longe: “Não basta captar investimento, importa definir quem queremos atrair. A prioridade deve ser a qualidade, não a quantidade.”

Luxo é uma soma de partes. É qualidade de vida. Carlos Leal, General Manager da United Investment Portugal

Por detrás da subida sustentada da procura, está algo que ultrapassa a rentabilidade ou a rentabilidade por metro quadrado: uma procura por experiências autênticas e formas de vida diferenciadas. “Luxo é uma soma de partes. É qualidade de vida”, afirmou Carlos Leal, lembrando que o maior contributo do golden visa não foi o capital, mas sim o facto de ter colocado Portugal no mapa internacional.

Mas a exigência também aumentou. Os compradores de hoje não querem apenas uma casa bonita, querem história, vista, localização, serviços, conforto e marca. E é aí que entram os branded residences.

Branded residences: selo de confiança ou estratégia comercial?

Associar marcas de luxo a residências tem-se tornado tendência global. Em Portugal, já existem alguns projetos, e a expectativa é que esse número cresça. Contudo, o conceito levanta questões.

Helena Amaral Neto alertou que este modelo só funciona se o projeto já for, por si, excecional - a marca entra para valorizar, não para mascarar fragilidades. Deve haver sinergia real entre o promotor, o projeto e a marca, caso contrário corre-se o risco de cair no artificial. “O exemplo da Versace é um caso crasso do que não fazer”, afirmou, apontando a falta de alinhamento entre identidade e propósito.

Carlos Leal acrescentou que muitas marcas veem as branded residences como uma simples fonte de receita alternativa. Para ele, a diferença está no modelo de negócio: se for de curto prazo, não traz valor; se for para ficar, a marca tem de ser sustentável e coerente com o destino.

Raízes, tradição e diferenciação

Nem todo o luxo precisa de ostentação. A proposta da Mello RDC vai noutro sentido, mais ligado à durabilidade, à tradição e ao património. “Não fizemos isto como um hobby, mas como parte da estratégia familiar”, explicou António Ribeiro da Cunha, que conta já com 15 projetos em Lisboa.

O verdadeiro luxo é voltar de um passeio a cavalo e encontrar um bolo quente à espera. Isso é que é experiência. António Ribeiro da Cunha, CEO da Mello RDC

A empresa está também presente na Comporta e em Melides, onde aposta numa abordagem que valoriza o território e as suas histórias. O objetivo é criar produtos com alma, inspirados no modo de vida local. “O verdadeiro luxo é voltar de um passeio a cavalo e encontrar um bolo quente à espera. Isso é que é experiência”, resumiu.

Desafios estruturais persistem

Apesar do crescimento e do prestígio crescente de Portugal neste setor, os entraves continuam. Falta de mão de obra especializada, excesso de burocracia, instabilidade fiscal e coragem política são apenas alguns. “Enquanto não forem tomadas decisões estruturais, vamos continuar a patinar”, afirmou Carlos Leal.

Helena Amaral Neto reforçou que a atratividade começa nas infraestruturas e na coerência da experiência oferecida. António Ribeiro da Cunha foi mais direto: “Hoje, 40% da estrutura de custos de um edifício para a classe média são impostos. Isso é um estrangulamento real.” Portugal tem, hoje, as condições para afirmar-se como referência global no imobiliário de luxo. Mas manter esse estatuto dependerá de uma aposta clara na qualidade, na visão de longo prazo e na coragem de fazer diferente.

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