“Todos os que se empenham nos movimentos cooperativos têm hoje condições para serem envolvidos numa concertação mais extensiva e alargada do que tem acontecido”, defendeu Pedro Passos Coelho, no Congresso Internacional do Cooperativismo, organizado pelo Crédito Agrícola e pela Confagri, e que contou com o Jornal de Negócios e o canal Now como media partners. Essa seria uma maneira de “reconhecer de forma mais consequente” o contributo que têm dado para o desenvolvimento do setor agroalimentar em Portugal e o seu papel no combate à desertificação.
O antigo primeiro-ministro sublinhou a importância do cooperativismo para organizar a oferta agroalimentar de uma forma sustentável e considerou que em Portugal é possível fazer mais para acrescentar valor ao setor, atacando os desafios da requalificação e da modernização.
Num momento em que a Europa discute o futuro do financiamento europeu para a agricultura, Passos Coelho aproveitou a intervenção no Congresso para lembrar que o excedente comercial que a União Europeia tem no setor agroalimentar equivale praticamente aos custos que canaliza para a Política Agrícola Comum (PAC), cerca de 60 mil milhões de euros. O número mostra que já “não representa um ónus para a economia europeia” e isso pode ser o mote para repensar estratégias.
Crescimento económico vai continuar tímido
Ainda de olhos postos na Europa, Passos Coelho deixou um retrato pouco animador das perspetivas de crescimento para os próximos anos na região, e em Portugal, tendo em conta a conjuntura atual e as assimetrias que historicamente nunca foram corrigidas e que hoje haverá ainda menos condições para corrigir.
O antigo governante lembrou que Portugal cresceu significativamente nos anos 60, quando iniciou uma era de industrialização e nos anos seguintes à adesão à UE. E nunca mais ao mesmo ritmo.
“Pode dizer-se que é natural por causa do amadurecimento da economia e que continuamos a convergir, mas sabemos que isso resulta da doença dos maiores, porque quando nos comparamos com os outros [membros mais recentes] vemos que estamos a ser mais lentos”.
“Por melhor que seja a estratégia que se adote é difícil imaginar que nos próximos 10 anos alguma coisa se altere significativamente”, antecipou Pedro Passos Coelho.
Numa altura em que o mundo volta a concentrar poderes, com os EUA e a China aos comandos, a Europa continua sem rumo definido e as opções são complexas.
“Para dispensar as alianças do passado, a Europa tem de ser aquilo que não é. Precisa de enfrentar as suas debilidades, associadas ao facto de serem 27 países com muitas dificuldades em avançar em conjunto, mais do que tem sido possível ao longo destes anos e isso não chega”.
Acabou a margem para adiar decisões. Reformas são incontornáveis
Passos Coelho defende que a região “não tem nenhuma possibilidade de vencer nos tempos mais próximos, o atraso em termos de inovação para os Estados Unidos ou para a China”. Falta capacidade de financiamento, escala e consenso, “num mercado que continua fragmentado”, onde o “protecionismo é gigantesco e as barreiras são enormes”. Numa “Europa em que cada um se senta a olhar para o seu umbigo, a defender o seu pequeno território”, a valorizar demasiado o curto prazo e muito pouco o médio e o longo prazo.
No diagnóstico, aponta a falta de visão de longo prazo que tem pautado as decisões dos políticos europeus em geral, mas também dos governantes portugueses em particular, como o maior entrave a decisões que ao longo dos anos acabaram por comprometer a capacidade de investimento e de crescimento da região como um todo e de muitos dos seus países.
Diz que o cenário atual precipita o fim da linha. “Chegamos ao fim das margens de manobra que nos permitem ir adiando as decisões importantes”. A Europa chega ao momento de todas as decisões sem soluções mágicas para resolver três grandes desafios que foi adiando: o da defesa, o da descarbonização; e o da sustentabilidade dos setores sociais.
Portugal, esgotou a margem para encarar que a economia não vai crescer sem que as reformas necessárias sejam realizadas, com o consenso possível. “Acredito que podemos crescer muito mais nos próximos anos, sem ser apenas às custas do consumo e daquilo que se vai dando, assim como quem distribui prémios aos reformados a um outro setor da sociedade portuguesa, ou fazendo algumas habilidades orçamentais para salvar o ano. Isso não chega. Já vivemos anos demais com este tipo de política, em Portugal e noutros países europeus, está na altura de fazer esse balanço e passar à frente”, rematou.