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Negócios Iniciativas | A habitação é o princípio de uma mudança social

Alda Botelho Azevedo defende que se tem de trabalhar estas questões através da transparência e de processos participativos, fazendo “a desconstrução da ideia de que o bairro social é um gueto”. Nuno Piteira Lopes revela que, há seis anos, “deixou de haver habitação social e concentrou-se em cumprir a função social da habitação.”

22 de Abril de 2025 às 16:00
DR
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Foto em cima: O debate "Políticas Sociais em Habitação Pública - E depois da casa?" contou com a participação de Alda Botelho Azevedo, Carla Rocha, Filipa Roseta, Nuno Piteira Lopes, e Pedro Baganha.

"A questão da habitação não pode ser vista unicamente do ponto de vista da casa, que é fundamental. O processo não acaba com a casa, começa com a casa, porque os problemas das pessoas não ficam no tapete da entrada", afirmou Carla Rocha, vereadora da Câmara Municipal de Oeiras, que tutela os pelouros da Habitação, Comunicação e do Turismo, na mesa-redonda "Políticas Sociais em Habitação Pública", que decorreu no 1.º Congresso Internacional de Habitação Pública que se realizou em Oeiras, e que contou com o apoio do CM e do Negócios. "Atribuímos fogos a famílias que, muitas vezes, estão muito fragilizadas do ponto de vista económico e emocional, porque são famílias com filhos, com doença mental, com idosos, dos mais diversos sítios e países", refere Carla Rocha.

A questão da habitação não pode ser vista unicamente do ponto de vista da casa, que é fundamental. O processo não acaba com a casa, começa com a casa, porque os problemas das pessoas não ficam no tapete da entrada. Carla Rocha

Vereadora da Câmara Municipal de Oeiras com o pelouro da Habitação

"Como os arquitetos dizem: fazemos a casa, que é o vaso, mas depois é preciso tratar das flores", afirmou Filipa Roseta, vereadora da Habitação e Obras Municipais da Câmara Municipal de Lisboa. Considerou que Lisboa tem o "maior programa de habitação que existe desde os anos 1990, como temos o maior investimento nas associações dos bairros para trabalharem com a população. Este programa começou em 2011 e a Câmara dá 50 mil euros por ano a associações para fazerem programas com a população. Entregaram 2548 casas que apoiam as rendas de 1200 famílias.

Alda Botelho Azevedo, investigadora no Instituto de Ciências Sociais (ICS) e professora auxiliar convidada no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, debruçou-se sobre a resistência à localização dos bairros sociais. Em termos abstratos, as pessoas tendem a ser a favor da construção e da existência da habitação pública. Mas, na realidade, há resistência e não é "completamente irracional", porque há o estigma por muitos bairros de habitação pública surgirem associados à criminalidade e à desvalorização do património, devido à proximidade desses bairros.

A vez da classe média

A investigadora defende que se tem de trabalhar estas questões através da transparência e de processos participativos, fazendo "a desconstrução da ideia de que o bairro social é um gueto". Nuno Piteira Lopes, vice-presidente da Câmara de Cascais, revela que na sua autarquia, há seis anos, deixou de haver habitação social e concentrou-se em cumprir a função social da habitação".

"Sempre tivemos um problema de habitação em Portugal. No passado, o foco era as classes mais desfavorecidas e, atualmente, pela primeira vez, temos uma crise de acessibilidade à habitação por parte da classe média", referiu Pedro Baganha, vereador da Câmara Municipal do Porto, que tem 50 bairros e 13 mil fogos. Como 70% das famílias são proprietárias de habitação, hoje a política pública de habitação tem de levar em conta 30% da classe média, que são "os jovens, os migrantes, as pessoas em reconfiguração familiar, porque houve uma subida do preço da habitação muito mais pronunciada do que a recuperação de rendimentos desde a crise financeira de 2011 e 2014".

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