Foto em cima: O debate sobre a "Construção Sismo-Resistente" contou com a participação de Armando Lucio Simonelli, Jorge Novais Bastos, e José Pequeno.
"Um sismo é muito complexo, são várias frequências e direções, pode ter, por exemplo, acelerações verticais", esclareceu Jorge Novais Bastos, professor catedrático da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, na mesa-redonda "Construção Sismo-Resistente", no 1.º Congresso Internacional de Habitação Pública que se realizou em Oeiras, e que contou com o apoio do CM e do Negócios. Em relação a um eventual terramoto na capital, referiu que a cidade tem diversas zonas micro-sísmicas, como zonas de rocha, de aluvião, onde há amplificação das vibrações, solos compactos. "Não podemos dizer que ficaria toda destruída porque não é uniforme, nem homogéneo", afirmou Jorge de Novais Bastos. Concluiu que haveria consequências graves, mas que é difícil prever em que dimensão.
Jorge de Novais Bastos revelou que "Lisboa tem edifícios já com um desenho moderno feito com um material muito interessante que é o chamado aço macio, que é capaz de absorver ciclos de stresse, ou seja, de se formar ciclicamente e acomodar energia. Foi um material que existiu até ao início dos anos 1970, e, portanto, a maior parte dos edifícios é feita com esse tipo de aço." Admite que podem ter percentagens "de aço insuficientes para o reforçar, mas não quer dizer que caiam no primeiro abalo, porém, podem ficar seriamente danificados". Salientou ainda que "a madeira tem um amortecimento crítico fantástico, da ordem dos 20%, o betão e o aço são muito mais baixos, da ordem de 3, 5%".
Por outro lado, em termos de urbanismo, os edifícios estão solidários entre si. Existem anéis de urbanismo, "quarteirões em que os edifícios se ajudam. Não estão isolados no meio da planície", asseverou Jorge de Novais Bastos.
Responder aos sismos
"A partir do momento em que conseguimos efetuar uma construção que seja mais leve, e que essa leveza comece na estrutura e depois se prolongue pelos outros elementos construtivos, a verdade é que vamos ter um conjunto que está muito mais habilitado a responder às questões sísmicas", referiu José Pequeno, fundador e diretor criativo da empresa de projeto Concept Fusion, que desenvolve ainda atividade no âmbito da Fractus Construção Modular.
A tecnologia que está a produzir em Leiria na Fractus surgiu pela "necessidade de mudar o paradigma no âmbito da construção, dando uma resposta de qualidade rápida e a custos acessíveis, e a grande questão é a combinação da qualidade com os custos acessíveis", salientou José Pequeno.
A industrialização permite controlo de tempo e de qualidade, que vai além do âmbito arquitetónico, mas passa também pelo funcional, como o comportamento energético. "Esta combinação de fatores é uma responsabilidade que existe hoje em dia. Só que a única forma de realmente darmos resposta é combinar tudo isto numa solução otimizada", disse José Pequeno.
Num sismo, "podem cair, desmoronar ou colapsar, mas colapsam de uma maneira diferente. A questão da leveza é um aspeto muito importante, porque mesmo que colapse, são peças que não partem. Por exemplo, no caso do betão, em determinadas situações, pela sua rigidez, parte e cria destroços."
Como referiu Armando Lucio Simonelli, professor catedrático em Geotecnia da Universidade de Sannio, "como engenheiros, temos de fazer prevenção, o que significa que temos de construir para que o edifício não desabe".