Foto em cima: A mesa-redonda "Energia/Sustentabilidade,uma habitação de futuro" contou com a participação de Hélder Perdigão Gonçalves, João Moura, João Branco Pedro, e Luísa Gama Caldas.
"A pandemia trouxe a questão do indivíduo para o centro através da sustentabilidade. Em termos de saúde, relacionamos muito a qualidade de vida que as pessoas tinham dentro da habitação, a quantidade de tempo que estavam no exterior, a luz natural, muitas doenças associadas a não ter exposição, por exemplo, à vitamina D foram relatadas por muitas pessoas que tinham deficiência desta vitamina e acabaram por ter muito mais problemas de saúde", referiu Luísa Gama Caldas, professora catedrática de Arquitetura nos Estados Unidos, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, na mesa-redonda "Energia-Sustentabilidade: Uma Habitação de Futuro", integrada no 1.º Congresso Internacional de Habitação Pública que se realizou em Oeiras, e que contou com o apoio do CM e do Negócios.
Hélder Perdigão Gonçalves, engenheiro mecânico, é diretor do Laboratório de Energia, coordenador da Unidade de Energias Renováveis e Eficiência Energética, e salientou que 75% dos edifícios em Portugal não são eficientes. "Por isso, os custos energéticos aumentam e as famílias, sobretudo as de rendimentos mais baixos, refreiam o consumo", disse Hélder Perdigão Gonçalves. Estima-se que são afetadas pela pobreza energética em Portugal entre 1,8 e 3 milhões de pessoas.
Na sua opinião, "as habitações a construir no futuro têm de ter componentes pré-fabricadas que tenham custos menores e que substituam parte da envolvente dos edifícios. Estas componentes de fachada têm em si módulos fotovoltaicos que produzem energia que será utilizada na habitação", afirmou Hélder Perdigão Gonçalves.
Ambiente e resiliência
Os desafios que se apresentam à habitação do futuro são o da sustentabilidade ambiental e da resiliência, afirmou João Branco Pedro, diretor do Departamento de Edifícios do Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Considerou que "a construção e a utilização das casas têm um grande impacto ambiental e temos de o reduzir para o bem de todos". Devem-se utilizar soluções construtivas que resistam aos efeitos climáticos extremos, que, em virtude das alterações climáticas, se tornam mais frequentes.
João Branco Pedro salientou que o grande desafio que se levanta é conseguirmos construir a preços acessíveis. "A forma de construir é relativamente artesanal, a pré-fabricação é uma forma, não sei se de conseguir reduzir custos, mas de acelerar o processo de construção."
Por força do Green Deal, "todos os materiais que são utilizados na construção de um edifício têm de estar devidamente identificados à sua origem, qual é a pegada de carbono que esses materiais têm e, sobretudo, a capacidade de reciclagem desses materiais, ou seja, a economia circular. Um dos grandes desafios que existe hoje com a nova, ou a construção do futuro, é realmente a capacidade de reciclar os materiais utilizados", afirmou João Moura, que possui mais de 20 anos de experiência em desenvolvimento imobiliário.
João Moura assinalou que um dos fatores para a crise da habitação é a diminuição do número de empresas ligadas ao setor da construção, que passou de 112 mil empresas em 2007 para 56 mil empresas em 2018, e de 600 mil pessoas para 300 mil pessoas. "Quando nós falamos de um problema de oferta, há um grande problema que é de mão de obra. E isso também tem uma influência indireta no preço das casas.".