No seu Outlook para 2026, Luís Andrade, macroeconomista da IM Gestão de Ativos, começou por analisar os efeitos da política de Donald Trump na economia mundial. “Foi um indutor de muita incerteza, insegurança e perspetivas negativas para a economia mundial. Estamos no patamar mais elevado de tarifas desde 1934, entre 17% e 18% da tarifa efetiva dos Estados Unidos”, salientou na conferência “Portugal Investment by Global Citizens”.
Apesar disso, Luís Andrade considera que o impacto real tem sido inferior ao esperado. “Existe ainda um gap substancial. Passámos dos 2,4% para cerca de 10% em julho, em termos de tarifas efetivamente encaixadas. Este gap provavelmente não vai fechar completamente.” Acrescentou que “as empresas estão a gerir de forma mais cautelosa a transmissão destas tarifas para os consumidores”.
A flexibilização do travão da dívida alemão é vista como um ponto decisivo. “O Fundo de Infraestruturas de 500 mil milhões de euros na economia germânica representa cerca de 1% do PIB ao ano em termos de impulso ao investimento. A Alemanha esteve numa situação de subinvestimento em vários setores nas últimas duas décadas”, destacou Luís Andrade.
O economista sublinhou que “a Europa pode capitalizar esta mudança no equilíbrio da economia mundial. É uma oportunidade para olharmos para dentro de casa e corrigirmos os problemas que temos”.
A transformação portuguesa
“A economia portuguesa é hoje bem diferente daquilo que era no passado. Isto não é apenas uma história de crescimento. Assistimos a uma correção radical dos saldos externos, reduzimos de forma significativa o nível de dívida pública, e houve também uma redução expressiva da dívida das empresas e das famílias”, afirmou Luís Andrade.
Os resultados são evidentes, sobretudo ao nível da dívida, das finanças públicas e do investimento direto estrangeiro. “Portugal tem hoje um rating entre A- e A+ nas principais agências, comparável ao de economias como França e Espanha. Somos um dos países mais atrativos para o investimento direto estrangeiro na Europa. Vivemos um verdadeiro boom no investimento em tecnologia”, salientou.
A projeção de Luís Andrade para os próximos anos é otimista. “Veremos Portugal continuar a crescer acima da média da Zona Euro, na ordem dos 2% ao ano, muito impulsionado em 2026 pela dinâmica do investimento e pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”, concluiu.