Paulo Macedo pensa que em termos de governação, o setor bancário aprendeu as lições.
A disparidade na rendibilidade entre os bancos norte-americanos e os europeus foi identificada como um problema estrutural por Paulo Macedo, presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, na conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now. “Temos um fosso significativo entre a rendibilidade dos bancos europeus e dos bancos europeus, que persiste há décadas, de aproximadamente 6 a 8 pontos percentuais no longo prazo.”
Relativamente às tarifas comerciais, Paulo Macedo considera que “as tarifas afetam negativamente o crescimento do PIB mundial”, com efeitos macroeconómicos relevantes, sobretudo conjugados com um momento em que a Europa precisa de realizar grandes investimentos, pois “tem de fazer um enorme esforço de despesa pública e de investimento na defesa, nas comunicações, na transição energética, entre outras áreas”. Esta situação cria “uma dupla pressão sobre o crescimento do PIB mundial”.
O presidente executivo analisou ainda os impactos das tarifas nas empresas portuguesas, referindo que afetam setores como o "vinho", que enfrenta a conjugação de um ano internamente difícil e dificuldades nos mercados externos, a par do setor da produção de papel. Ainda assim, sublinhou que “as tarifas não terão um grande impacto na maioria dos nossos clientes, na maioria dos nossos setores”. Acrescentou que muitas empresas procuram alternativas, “por exemplo, imediatamente o Canadá ou um maior reforço das exportações e do comércio”.
Paulo Macedo antecipa que as tarifas se mantenham: “Não acredito que as tarifas desapareçam, porque, designadamente, os Estados Unidos precisam de receitas adicionais. O que espero é que fiquem entre os 10% e os 15%. O que podemos fazer é negociar.”
A estranheza de Paulo Macedo recai sobre o modo como decorrem atualmente as negociações internacionais, pois “negoceiam-se tarifas com tarifas, tarifas com custo com defesa, negoceiam-se tarifas com ameaças, ou com parcerias, o que é algo novo". O presidente executivo da CGD manifestou preocupação pelo facto de "não sabermos quais são os compromissos dos nossos aliados históricos mais relevantes, como os EUA”. Além disso, alertou para “um ataque às instituições e ao Estado de direito”, que coloca em causa entidades fundamentais como as universidades. Paulo Macedo sublinhou que partilha coms os prémios Nobel da Economia de 2025, a sua convicção de que “a riqueza de um país, a sua solidez, as forças que fazem um país progredir, dependem da qualidade das instituições". Uma filosofia que, segundo referiu, também decorre da experiência acumulada. “Durante a nossa vida empresarial, profissional ou de investigação, vimos que era importante ser capaz de construir parcerias.”
Quanto à estratégia de gestão da incerteza, Paulo Macedo defende que é necessário dar certezas aos clientes e aos colaboradores. “Apesar de algumas perturbações e de vivermos numa nova era, ter um melhor serviço ao cliente, ser mais rápido, mais ágil, ser mais sólido, continuar a recrutar talentos, comunicar mais com as pessoas, partilhar projetos para o futuro, são aspetos que estão ao nosso alcance e dão garantias, aos nossos clientes e colaboradores.”
O presidente executivo da CGD destacou ainda a transformação do setor. “Nunca tivemos tantos serviços para clientes como hoje. Fazemos muito mais transações e qualquer pessoa nesta sala executa muito mais transações do que há cinco anos, com mais balcões.” Esta evolução traduz-se em “mais serviços, crescimento do volume de negócios nos últimos anos, depois da diminuição do endividamento das empresas e das famílias”, que ajudam a compensar desafios como “a descida das taxas de juro”, com os bancos a criarem mais valor. Concluiu que “em termos de governação, penso que o setor bancário aprendeu as lições.