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Portugal atrai investidores americanos

O perfil dos investidores que chegam a Portugal mudou radicalmente. Se há uma década predominavam perfis mais variados, hoje são maioritariamente investidores americanos.

07 de Novembro de 2025 às 17:30
Investimento global atrai cidadãos e investidores americanos em Portugal
Investimento global atrai cidadãos e investidores americanos em Portugal David Cabral Santos
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O debate “Aqui e agora: os verdadeiros fatores que impulsionam o investimento em Portugal”, contou com a participação de Stephan Morais, Pedro Falcão, Nuno Serafim, e António Mello Campello. A moderação esteve a cargo de Paulo Moutinho, editor executivo do Jornal de Negócios.

“Uma das grandes vantagens que Portugal tem é aquilo que ainda não tem: um Trump, um Erdogan, um Orban”, afirmou Nuno Serafim, managing partner da 3 Comma Capital SCR. Portugal tem-se destacado no panorama europeu pela ausência de líderes populistas e pela estabilidade política, qualidades que se tornaram particularmente atrativas para investidores norte-americanos nos últimos dois anos.

O perfil dos investidores que chegam a Portugal mudou radicalmente. Se há uma década predominavam perfis mais variados, hoje são maioritariamente investidores americanos com elevada literacia financeira, que aplicam capital em fundos de capital de risco e venture capital. “São investidores que têm proficiência, conhecem os riscos e são bastante mais valiosos”, explicou Nuno Serafim, no debate “Aqui e agora: os verdadeiros fatores que impulsionam o investimento em Portugal”, integrado na conferência “Portugal Investment by Global Citizens”, organizada pelo Bison Bank e que contou com o Jornal de Negócios como media partner, acrescentando que levantam menos problemas ao nível dos procedimentos de identificação financeira.

António Mello Campello, partner da BlueCrow Capital, alertou para um problema estrutural, a excessiva dependência da economia portuguesa das decisões políticas. O peso do Estado, cerca de metade do PIB, faz com que cada alteração legislativa tenha impacto direto na atividade privada. Criticou as mudanças recentes no SIFIDE e no regime do Golden Visa, que considera terem diminuído a capacidade de captação de capital. “Enquanto a política for o centro da decisão económica, todos perdemos”, afirmou.

Poucos investidores nacionais

Stephan Morais, cofundador e diretor-geral da Indico Capital Partners, defendeu uma reforma estrutural na forma como o Estado apoia o capital de risco. A criação de um fundo de fundos, gerido pelo Banco Português de Fomento “em condições de mercado, é essencial para atrair investidores institucionais como fundos de pensões e seguradoras, que constituem a base das indústrias de private equity e venture capital nos países mais avançados”. Lembrou ainda que muitos desses investidores estrangeiros rejeitam participar em programas públicos por falta de alinhamento com as práticas internacionais.

Um dado preocupante revelado no debate por Pedro Falcão, vice-presidente da Investors Portugal, demonstra a fraca participação de investidores nacionais. A Armilar, gestora de referência que levantou recentemente 120 milhões de euros, obteve apenas 5% desse capital de entidades individuais portuguesas. Nuno Serafim defendeu que o verdadeiro objetivo da gestão de ativos deve ser a criação de valor para os investidores, e não apenas para a economia.

Reconheceu que o capital de risco tem desempenhado um papel pioneiro ao financiar empresas inovadoras e setores estratégicos, como a agricultura ou as energias renováveis, apoiado inicialmente por programas como o Golden Visa. Sublinhou, contudo, que a maturidade do setor exige agora um foco em valor sustentável e não em benefícios fiscais.

O setor da defesa emerge como nova área de investimento, impulsionado pelas mudanças nas restrições ESG e pelo imperativo europeu de defesa. “Há uma consciência muito maior da necessidade de investir na defesa europeia”, acentuou Stephan Morais. O investimento em empresas tecnológicas com aplicações civis e militares, como satélites e comunicações subaquáticas, está a crescer, impulsionado por fundos europeus.

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