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Rogério Campos Henriques: “Os portugueses poupam pouco e investem mal”

O setor dos seguros, no seu conjunto, tem uma palavra a dizer, dizendo que “temos de encontrar formas de auxiliar a nossa sociedade a preparar-se para a longevidade”, referiu Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade.

26 de Junho de 2025 às 19:30
Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade, aborda a preparação da sociedade para a longevidade
Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade, aborda a preparação da sociedade para a longevidade Fernando Costa
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Rogério Campos Henriques defendeu que ao sermos uma economia aberta, estamos expostos a todos os temas geopolíticos e económicos debatidos na Lisbon Conference.

“Portugal é um caso muito sério de um país que envelhece muito rapidamente. Somos um dos países mais velhos do mundo, e não tratamos devidamente esta questão relacionada com a demografia”, afirmou Rogério Campos Henriques, CEO da seguradora Fidelidade, na conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now.

Temos de encontrar formas de auxiliar a nossa sociedade a preparar-se para a longevidade, o que é uma coisa incrivelmente boa, mas temos de nos preparar porque é um desafio estrutural. Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade

Na sua opinião, o setor dos seguros, no seu conjunto, tem uma palavra a dizer. “Temos de encontrar formas de auxiliar a nossa sociedade a preparar-se para a longevidade, o que é uma coisa incrivelmente boa, mas temos de nos preparar porque é um desafio estrutural”. Estes desafios passam pela promoção da saúde, a prevenção da doença, a necessidade de fazer poupança.

Esta situação cria pressões significativas no sistema de saúde e pensões, sendo evidente na “falta de médicos no sistema nacional de saúde” que revela “um problema demográfico e de falta de planeamento. Não temos ações estruturais e concretas para apoiar o nosso futuro. E, por isso, acreditamos que temos de ter um papel mais ativo nesta revolução”, salientou Rogério Campos Henriques.

Acrescentou ainda que a saúde do sistema público está ameaçada e que se olharmos “para a taxa de substituição das pessoas quando se reformam, esta irá diminuir drasticamente até 2050. E 2050 não está assim tão longe. Por isso, precisamos de encontrar respostas que complementem o sistema público para criar opções. Por que, além disso, os “os portugueses poupam muito pouco e investem mal”.

Demografia, clima e proteção das pessoas

Para Rogério Campos Henriques, CEO da Fidelidade, o atual contexto económico está marcado por “uma grande volatilidade e incerteza”, com impactos significativos esperados para Portugal. “Estamos ainda muito em cima dos acontecimentos para podermos observar adequadamente os efeitos que vários dos fenómenos que temos atravessado vão produzir, mas sabemos que um abrandamento da atividade económica terá necessariamente um impacto significativo em Portugal. Somos uma economia aberta e estamos, por essa razão, muito expostos a todos os temas geopolíticos e económicos debatidos na Lisbon Conference.”

A confluência de desafios geopolíticos e económicos contribui para um clima de incerteza que, como refere o gestor, “vai ter impacto na vida das pessoas, na capacidade das empresas em desenvolverem a sua atividade e que vai afetar o país de uma forma transversal”. Ainda assim, sublinha que “as urgências do curto prazo e da atual conjuntura não devem pôr em causa a urgência daquelas que são as questões verdadeiramente estruturais que temos pela frente: demografia, clima e proteção das pessoas”.

Apesar das dificuldades, o CEO Fidelidade mantém uma postura otimista, mas alerta para a necessidade de ação em três frentes. A evolução demográfica é uma das maiores preocupações. O aumento da esperança média de vida em Portugal, aliado a níveis de natalidade historicamente baixos, gera uma pressão crescente sobre o sistema de segurança social e os custos de saúde. “É uma questão matemática e que sabemos que vai acontecer”, afirma. A seguradora defende uma abordagem holística à longevidade, promovendo condições para uma vida mais longa e saudável, mas também um estímulo à poupança e ao investimento.

No campo da sustentabilidade e das políticas ESG, Rogério Campos Henriques alerta para o risco de retrocessos, mas considera que estes temas “não desaparecerão das agendas corporativas, seja na Europa, seja nos EUA”. A Fidelidade reforçou o compromisso com o plano Net Zero, com medidas de redução das emissões diretas e indiretas, mas também com foco na adaptação às alterações climáticas.

Outro ponto crítico é o da proteção face a riscos extremos. “Em Portugal continuam a existir gaps de proteção que são particularmente significativos”, avisa. A criação de um Fundo de Catástrofes é, por isso, considerada essencial para mitigar os efeitos dos fenómenos climáticos cada vez mais frequentes e severos, protegendo famílias e aliviando o peso sobre o Estado.

A natureza do negócio segurador, recorda, é de longo prazo. “Temos responsabilidades que se estendem por décadas e queremos contribuir ativamente para preparar um futuro melhor.” Isso implica promover a literacia financeira, fomentar a poupança e o investimento e trabalhar em conjunto com reguladores e sociedade civil para construir um verdadeiro ecossistema de proteção, longevidade e sustentabilidade.

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