“O futuro da economia depende da colaboração efetiva entre os setores público e privado, cada um no seu papel. Para tal, precisamos de regulamentação adequada e previsível, leis estáveis, mercados de capitais mais líquidos e de garantir que toda a atuação dos diferentes agentes segue as melhores práticas internacionais”, afirmou António Nogueira Leite, presidente do Conselho Fiscal da FinProp Capital e professor na Nova SBE, na conferência “Portugal Investment by Global Citizens”, organizada pelo Bison Bank, com o Jornal de Negócios como media partner.
Neste aspeto, António Nogueira Leite destacou o sucesso inicial de Portugal nas renováveis, “não só em termos do que observamos no território, mas também pela presença de empresas portuguesas no estrangeiro. Em poucas áreas as empresas nacionais têm tanta relevância internacional como no setor das energias renováveis. Portugal é um dos países líderes na eólica e no solar.” Contudo, alertou para a estagnação provocada pelo mau funcionamento da administração pública e pelas sucessivas alterações das regras, que criaram dúvidas entre os investidores internacionais.
Tem havido ao longo dos anos um aumento do investimento estrangeiro, com foco nas transições digital e verde. Defendeu o alinhamento das prioridades entre o público e o privado para promover o investimento orientado para a inovação e para a captação de capital, devido às “limitações de Portugal enquanto fonte de capital”, disse António Nogueira Leite. Na sua opinião, “sem regras estáveis e colaboração entre o público e o privado, não conseguiremos ser bem-sucedidos nestas duas transições”.
Lisboa como hub de capital de risco
“Temos talento, temos boas universidades, temos custos relativamente mais baixos, temos um ecossistema com aceleradores ativos, espaços de coworking e eventos internacionais que nos põem no mapa.” Estas foram as vantagens competitivas que, segundo António Nogueira Leite, poderiam fazer de Lisboa um hub de capital de risco. Mas considerou que “temos de ter um enquadramento que não muda a cada cinco ou dez anos”.
Na habitação, “o financiamento não pode ser feito da mesma maneira. Os bancos têm hoje uma análise de rentabilidade e de risco bastante diferente do passado.” A solução passa por fundos alternativos, como fundos de crédito de diversos tipos e fundos de private equity, que “podem, pela sua natureza e supervisão diferentes, ter ofertas muito mais rápidas e flexíveis”.
O papel do Estado é fazer “a sua parte enquanto promotor, mas também dar às entidades privadas regras claras para desenvolverem os seus projetos. Não é com regulação das rendas ou restrições que vamos resolver este problema”, concluiu António Nogueira Leite.