
António Lagartixo, CEO da Deloitte Portugal, defendeu uma estratégia focada na tecnologia, no talento e na captação de capital como pilares para o desenvolvimento económico do país.
“Se em Portugal não encararmos a economia como global, dificilmente poderemos aspirar a um desenvolvimento económico sustentado nos próximos anos. Para mim, isto é absolutamente determinante”, disse António Lagartixo, CEO e managing partner da Deloitte Portugal. Apresentou uma visão estratégica sobre o desenvolvimento económico português, estruturando a sua análise em torno de três aspetos estruturantes que são condicionantes naturais. Portugal é um país pequeno em termos geográficos e demográficos, é um país periférico e “temos muito pouco capital disponível para investir”.
António Lagartixo contrapôs três vantagens distintivas. A primeira é “uma facilidade, uma apetência natural para a adoção de novas tecnologias”, exemplificada pelos casos dos telemóveis e da rede multibanco, que deve ser potenciada. Para um país pequeno, com pouca capacidade de investimento e com uma baixa produtividade, as tecnologias são cruciais, porque “nos permitem diminuir, face a países maiores, com outra capacidade, aquilo que é o fosso existente ao nível da produtividade”. Favorece também a participação na economia global, o que faz aumentar o mercado natural. Além disso, “chegar primeiro à criação de novos produtos e serviços coloca-nos com alguma vantagem competitiva”, refere António Lagartixo.
Se em Portugal não encararmos a economia como global, dificilmente poderemos aspirar a um desenvolvimento económico sustentado nos próximos anos.
Não conseguimos ser mais competitivos se não conseguirmos ter as melhores pessoas e o capital necessário para investir nos setores certos.
Na sua opinião, a única forma de “poder ser competitivos e a ser mais relevantes no mundo é, de facto, agarrar e capitalizar o que temos à nossa disposição para investimentos em tecnologia e na desmultiplicação desses investimentos. Para países pequenos, com poucos recursos, não é possível fazer investimentos em todos os setores, mas temos que garantir que somos focados e que agimos de maneira ágil naquilo que realmente interessa e na qual temos alguma vantagem competitiva”.
Relacionamento e ensino de qualidade
Os outros dois aspetos são a capacidade cultural de relação e adaptação com outros povos e culturas. Além disso, “temos uma qualidade de ensino e de formação que nos tem permitido fazer uma evolução no sentido positivo daquilo que é a nossa posição competitiva no mundo. Nesta nova ordem ou desordem mundial, temos que agarrar nestes três aspetos, que são positivos, e maximizá-los”.
“Não conseguimos ser mais competitivos se não conseguirmos ter as melhores pessoas e o capital necessário para investir nos setores certos”, afirmou António Lagartixo. Considerou que, relativamente ao capital e à atração de capital, o desafio parece mais complexo, porque “sem resultados também não conseguimos atrair capital. Relativamente ao ensino, temos que continuar a investir naquilo que é o ensino e garantir que continuamos a ter pessoas que são realmente distintivas no mercado global”.
O executivo da Deloitte enfatizou três prioridades de curto prazo. Primeiro, a necessidade de “tomar decisões” sobre setores prioritários, destacando a biotecnologia, a saúde e as tecnologias de informação como áreas com “efeito desmultiplicador na economia”, mas também a defesa e a indústria de precisão. Segundo, a retenção de talento qualificado, alertando que “um terço dos jovens, dos 15 aos 39 anos, saem de Portugal”, com 45% dos emigrantes em 2023 a terem formação superior. Terceiro, o investimento conjunto público-privado em condições atrativas para os jovens.
Por último, investir em tecnologia em Portugal é absolutamente determinante para “desmultiplicar a riqueza gerada em Portugal” e induzir “todos os outros setores onde temos tanto para fazer”.