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Wolfgang Münchau: “A UE é o rei vai nu e vai ficar muito mais fraca”

Wolfgang Münchau traçou um retrato implacável da fragilidade europeia e alerta para a paralisia que se avizinha com a ascensão da extrema-direita.

15:30
Wolfgang Münchau analisa a fragilidade da União Europeia no Electric Summit.
Wolfgang Münchau analisa a fragilidade da União Europeia no Electric Summit. Cláudia Damas
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“Temos de reconhecer que o rei, a União Europeia (UE), está nu. Está muito fraca e, provavelmente, vai ficar ainda muito mais fraca”, afirmou Wolfgang Münchau, economista e analista europeu, que recentemente publicou o livro “Kaput - O fim do milagre alemão”. No seu entender, a questão central não passa só por reconhecer esta fragilidade. “Como indivíduos, a nossa escolha pode ser pensar sobre isto como algo derrotista, onde basicamente aceitamos que isto aconteça, ou olharmos para isto como uma oportunidade de mudança”, assumiu Wolfgang Münchau, na intervenção que fez no Electric Summit, uma iniciativa do Negócios que conta com o apoio da Galp e da Siemens, e tem a EY como knowledge partner e Oeiras como município anfitrião.

A transformação é evidente. “A UE dos meus anos jovens era a UE da esperança, do mercado único, do euro. Era a UE de uma economia vibrante. Em 1999, quando o euro foi fundado, a UE era a região do mundo com maior probabilidade de sucesso. Todos falavam sobre o declínio da América no século XXI e a ascensão do euro. Não aconteceu”, afirmou Wolfgang Münchau.

A indústria automóvel europeia está a perder terreno porque não conseguimos transformar startups em empresas globais. Falta capital e falta escala. A União Europeia dos meus anos jovens era  a UE da esperança e da economia vibrante. Hoje está muito fraca. Wolfgang Münchau, Economista e analista alemão

O problema, segundo o analista, é que desde a criação do euro “não houve muita integração, mas, pelo contrário, muita burocracia”. O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) é um exemplo paradigmático. “Como uma pequena empresa editorial, posso absolutamente dizer-vos que é um pesadelo cumprir as disposições do RGPD se temos muitos clientes em diferentes países europeus porque são diferentes em cada país. É um regulamento, não uma diretiva. Cada país implementa-o à sua maneira.” E acrescentou que “enquanto os outros são os inovadores e pessoas de negócios, na Europa somos os reguladores. Como se pode regular uma indústria em que a Europa não tem peso nenhum, como a inteligência artificial? É delirante”.

Futuro próximo

Para Wolfgang Münchau, quando as pessoas lhe perguntam o que está errado com a Europa, qual é a única coisa que se pode fazer, responde: “fazer uma união dos mercados de capitais. Porque não há maneira de Portugal ou até da Alemanha poderem financiar uma Google a partir das poupanças nacionais.” Adiantou ainda que a Europa tem potencial, pois é “um mercado avançado com 500 milhões de pessoas, maior do que os Estados Unidos. Se tivéssemos um mecanismo que canalizasse as poupanças dos nossos cidadãos para os investimentos mais rentáveis, seria um mecanismo que contornaria o sistema bancário”.

Deu ainda o exemplo das startups. “Estamos a ter bastante sucesso hoje em empresas startup. Mas não conseguimos torná-las grandes. É por isso que precisamos dos mercados de capitais. O capital de risco é a parte fácil. O próximo passo é a parte difícil”, referiu Wolfgang Münchau.

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