De facto é de bom tom algum cuidado quando lidamos com um “chatbot”. Tentei a definição para ‘bolhas’ e saiu isto: “Bolhas são pequenas bolsas cheias de líquido (geralmente um fluido claro chamado soro) que se formam entre as camadas da pele”. Esta resposta claramente não serve para a nossa crónica da semana. Tentámos “bolhas nos mercados” e a resposta já foi mais próxima do que pretendemos: “bolhas nos mercados”, o sentido é completamente diferente de bolhas na pele. Com efeito, o irracional respondeu: “Nesse contexto, trata-se de bolhas económicas ou financeiras que acontecem quando o preço de um ativo sobe muito acima do seu valor real impulsionado por especulação e/ou euforia - e não por sólidos fundamentos económicos...”. Quando a bolha ‘estoura’, causa quedas bruscas nos preços, proporcionando elevados lucros a uns agentes e impondo pesadas perdas a outros, diria eu para complementar.
As bolhas são difíceis de identificar e ainda mais difíceis de prever, mas não são difíceis de explicar. Uma nova tecnologia lançada ao mercado eleva as expectativas dos investidores, os preços sobem e os especuladores entram em massa, acreditando que poderão revender o ativo mais tarde a alguém por um preço ainda mais alto. O ponto essencial é que uma bolha pode formar-se mesmo quando os investidores são de racionalidade (quase) completa. Desde que existam investidores suficientes a negociar com base num otimismo cego, os mais sofisticados acharão lucrativo acompanhar a bolha em vez de apostar contra ela. Quando as bolhas ‘rebentam’ (algumas) provocam colapsos económicos e financeiros mais amplos: choques petrolíferos nos anos 70; crash de 1987; as crises das economias asiáticas e russa em 1997 e 1998 (Hello LTCM e os Nobel Scholes & Merton); bolha dot.com em 2001; 2007 e a crise de crédito nos EUA etc., são exemplos.
A verdadeira dinâmica de bolha surge da combinação entre investidores ingénuos que extrapolam - ‘a linha continua a subir’ - e investidores que sabem que as avaliações estão distorcidas, mas mantêm as suas posições por receio de vender demasiado cedo. É sobre isso que se tem falado quando se discute por exemplo a bolha da IA e, já agora, o referencial de mercado para as maiores empresas norte-americanas, o índice S&P 500, fortemente influenciado pela IA. Por um lado, estamos numa situação invulgar na qual os gestores de carteiras afirmam (quase unanimemente) que as ações norte-americanas estão sobrevalorizadas, mas, ainda assim, todos estão a entrar nelas. Por outro, parece que o mercado está a afetar recursos de forma ineficiente, investindo nas empresas erradas dentro de um setor em alta.
Mesmo que alguns investidores saibam que o preço está artificialmente alto, podem decidir participar racionalmente se acreditarem que ainda conseguirão lucrar antes da bolha rebentar. A racionalidade individual (quase) completa (“vou aproveitar a onda e sair antes”) não impede o comportamento coletivo menos racional (“os preços estão absurdamente altos”). Ou, como resumiu Keynes: “O mercado pode permanecer irracional mais tempo do que tu podes permanecer solvente.” Ou, como resumo eu: entramos no mercado através de uns portões enormes; se tivermos de sair apressadamente a porta torna-se incrivelmente pequena.