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Europa entre dois gigantes

Manuel Puerta da Costa ironizou que, apoiado por um movimento MAGA, Donald Trump acabou por criar um movimento MEGA, ao contribuir para tornar a Europa mais forte em vez de voltar a tornar a América grande.

15:30
O debate “Os Desafios da Europa num Mundo Dominado por Trump” contou com a participação de António Mendonça, João Queiroz, Manuel Puerta da Costa, e Maria João Tomás
O debate “Os Desafios da Europa num Mundo Dominado por Trump” contou com a participação de António Mendonça, João Queiroz, Manuel Puerta da Costa, e Maria João Tomás David Cabral Santos
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O debate “Os Desafios da Europa num Mundo Dominado por Trump” contou com a participação de António Mendonça, João Queiroz, Manuel Puerta da Costa, e Maria João Tomás

“Há duas coisas que a Europa deve tomar como bastante positivas e que aconteceram nos últimos 12 meses. Uma chama-se relatório Draghi”, afirmou Manuel Puerta da Costa, presidente da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros, no debate “Os Desafios da Europa num Mundo Dominado por Trump”, integrado na Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’ organizada pelo Jornal de Negócios e pelo Banco Carregosa. Manuel Puerta da Costa destacou que o documento “elenca um conjunto de questões essenciais para a Europa” e foi “um mote para a nova Comissão Europeia”.

A pressão americana está a forçar um despertar europeu em áreas como mercado de capitais, questões tarifárias e tecnologia. Manuel Puerta da Costa, Presidente da Associação Portuguesa de Analistas Financeiros

Mas a fonte de otimismo mais inesperada vem, no seu entender, da administração Trump. “Foi apoiado por um movimento MAGA, mas criou um movimento MEGA. Porque, em vez de fazer uma America Great Again, está a fazer a Europa Great Again”, ironizou Manuel Puerta da Costa, argumentando que a pressão americana está a forçar um despertar europeu em áreas como mercado de capitais, questões tarifárias e tecnologia.

Os números do mercado parecem dar-lhe razão. “Quem investe em ações americanas tem um retorno pior do que se investir em ações europeias, só as ações chinesas é que bateram as ações europeias”, revelou, acrescentando que a economia americana enfrenta dificuldades de financiamento a longo prazo, com spreads de 200 pontos base face à Europa.

A Europa está entalada à beira de uma guerra e entalada entre dois gigantes. Maria João Tomás, Professora do ISCTE

Maria João Tomás, professora no ISCTE, apresentou um cenário radicalmente diferente. “Já o ano passado, alertava para as tarifas de Trump”, recordou, traçando paralelos históricos preocupantes. “Se recuarmos um bocadinho mais no tempo, e se formos para os anos 1930, Hitler fez a mesma coisa, 11 dias depois de chegar ao poder estava a aplicar tarifas”.

As dependências fatais

A professora e analista denunciou as múltiplas dependências europeias. “Estivemos dependentes do gás barato russo até à invasão da Ucrânia, estivemos dependentes da China em termos de produção e dos Estados Unidos na Nato”. E alertou que “a Europa está entalada à beira de uma guerra e entalada entre dois gigantes”. Sobre a capacidade de reação europeia, foi categórica, “a única coisa que a Europa faz, e muito bem, é regulação, regulação, regulação. E isso nós exportamos para todo o lado”. Mas questionou, “não estou a ver reação da Europa, não só em questões dedefesa, que já devíamos ter acordado há muito mais tempo. Temos uma guerra na Ucrânia, que está aqui às portas”.

António Mendonça, bastonário da Ordem do Economistas e professor no ISEG, trouxe uma perspectiva estrutural. “Estamos numa mudança de mundo, efetivamente. E, portanto, tudo pode acontecer”, afirmou, questionando a própria identidade europeia, “o que é a Europa, atualmente? Qual é a identidade europeia?”

Os números que apresentou são reveladores da transformação em curso. “A Europa representa 17% do PIB mundial, os Estados Unidos, 26%, a China, 17%”. Mas o mais significativo é a dinâmica, “a China passou praticamente de 0% nos anos 90, para agora, para 17%”. E acrescentou que “em termos de responsabilidade da dinâmica do crescimento da economia mundial, a Ásia é responsável por cerca de 70%”. João Queiroz apontou a ausência de estruturas comuns. “Não existe um Fundo de Garantia de Depósitos único” e “não temos uma bolsa europeia”, embora tenha defendido que “existe um mercado de capitais único, através do Eurostoxx 600”. Maria João Tomás alertou para os riscos políticos internos. “Temos três países na Europa que são um grande problema, a Chéquia, a Eslováquia e a Hungria, todos com líderes pró-Rússia”. E advertiu que “o crescimento da extrema-direita pode colocar em causa as democracias”.

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