A evolução do protecionismo e do comércio livre, têm demonstrado que as políticas tarifárias, embora politicamente apelativas, conduzem a custos económicos elevados, ineficiências e perda de prosperidade. A atual vaga protecionista é um eco de ciclos anteriores.
Nos séculos XVI a XVIII, o mercantilismo dominou o pensamento económico europeu. O comércio era visto como um jogo de soma zero: a riqueza global era finita e o poder de uma nação media-se pela acumulação de ouro e prata. As tarifas serviam como armas para proteger indústrias e garantir superavits comerciais. Com o Iluminismo económico, Adam Smith defendeu o comércio livre, mas surgiram correntes teóricas defendendo “proteção das indústrias nascentes”, segundo as quais economias emergentes deveriam proteger certos setores, ignorando os riscos de ineficiência, corrupção, dependência permanente e retaliações internacionais. O exemplo máximo do fracasso protecionista foi a Lei Smoot-Hawley, que, ao aumentar tarifas, desencadeou uma guerra comercial global e agravou a Grande Depressão.
Após 1945, o mundo aprendeu com os erros. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, 1947) e, depois, a Organização Mundial do Comércio (OMC, 1995) instituíram um sistema multilateral baseado em regras e previsibilidade, permitindo a liberalização gradual das trocas. Este regime fomentou crescimento, produtividade e integração global sem precedentes, criando cadeias de valor transnacionais e tirando milhões da pobreza.
Em Portugal, o protecionismo do Estado Novo manteve o país pobre e fechado; a adesão à CEE em 1986 e a integração no mercado único europeu impulsionaram o investimento, a convergência económica e a melhoria do nível de vida. O Brexit no Reino Unido, demonstrou os custos da desintegração: aumento da burocracia e das barreiras não-tarifárias, menor produtividade e estagnação económica. A Coreia do Sul exemplifica o uso estratégico e temporário do protecionismo, que evoluiu para uma economia fortemente exportadora - mostrando que o sucesso depende de disciplina e orientação para a concorrência global.
A política comercial de Donald Trump (2017-2025) nos EUA, invocando leis antigas, impôs tarifas sobre produtos vários chegando a taxas de 145%. A China retaliou e a OMC foi paralisada, abrindo espaço para uma política de poder económico sem árbitro; resultado: aumento da incerteza global, fragmentação das cadeias de abastecimento o desvio de comércio para países como o Vietname ou o México, reduzindo o crescimento global, travando o investimento e encarecendo bens essenciais. As famílias americanas perderam milhares de dólares por ano em poder de compra, enquanto indústrias como a automóvel viram os custos disparar e a competitividade diminuir. As promessas de reindustrialização dificilmente se concretizarão porque esta tenderá a deslocar-se para países de baixos salários.
A história fornece uma lição recorrente: muros económicos podem parecer uma defesa da soberania e do emprego, mas invariavelmente reduzem a prosperidade coletiva. Acerca da fixação de tarifas e barreiras comerciais, Bartleby, o escrivão de Melville, responderia: ‘I would prefer not to”.