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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

MARKET MONITOR: EUA vs UE, dois mercados e duas velocidades

Artigo de Luís Oliveira, Departamento de Finanças da ISCTE-IUL Business School

Negócios 13:00
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Luís Oliveira, Departamento de Finanças da ISCTE-IUL Business School

Na maior parte dos últimos dois anos, os investidores globais operaram sob a mesma premissa: os principais bancos centrais estavam alinhados. Primeiro, em pânico, subiram as taxas; depois, fizeram uma pausa para respirar. Essa era acabou e o final de 2025 deu lugar ao “Great Decoupling”: A Reserva Federal dos EUA (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) leem livros de instruções opostos e a divergência de políticas, baseada em duas realidades económicas dramaticamente diferentes, é agora o principal motor dos mercados globais, desde o câmbio EUR/USD à alocação de capital entre continentes.

De um lado, o BCE. Numa economia estagnada (crescimento de 0,2% no Q3) mas com a inflação finalmente domada (cerca de 2,1%), Lagarde declarou ‘pausa’. Após os cortes agressivos na primeira metade do ano, o BCE mantém agora a sua taxa de depósito nos 2%. A lógica é clara: o mandato da inflação está cumprido e estimular a economia não é, de momento, a prioridade.

Do outro lado, a Fed. Numa economia sobreaquecida com crescimento do PIB estimado em 3,9% e uma inflação “pegajosa” (cerca de 3,1%) a lógica seria manter as taxas altas. No entanto, a Fed, temendo um colapso no mercado de trabalho, acaba de efetuar o segundo “corte preventivo” do ano, colocando as taxas no intervalo de 3,75%-4%. Este diferencial de quase 200 pb é um íman para o capital.

Nos mercados de dívida pública o resultado é uma rotação de capital massiva para fora da dívida europeia e para dentro da dívida americana, criando uma procura implacável pelo Dólar, enfraquecendo o Euro. O mercado de obrigações europeu, sem o apoio de novos cortes do BCE, ficou estagnado e vulnerável.

No mercado acionista a divergência é ainda maior. Os índices americanos vivem o cenário de sonho com crescimento económico e um PIB robusto a sustentar os lucros fortes e, apesar da economia forte, cortes nas taxas de referência, colocando o custo do capital em patamares que estimulam o investimento.

Já os índices europeus estão órfãos de um catalisador. O combustível dos cortes do BCE esgotou-se enfrentando agora uma realidade dura: fraco crescimento económico, manutenção das taxas de referência e a perspetiva de que assim permaneçam até setembro de 2026.

Não é de admirar que o S&P 500 esteja a ter um desempenho significativamente superior ao STOXX 600. Ainda assim, o capital está a ser alocado de forma específica, premiando temas diferentes em cada continente: nos EUA a tecnologia “Mega-Cap”, com um motor de crescimento baseado em conceitos como a IA e a “Cloud”, beneficia diretamente da narrativa de cortes da Fed premiando títulos como MSFT, AAPL e NVDA. Na economia europeia, sem fulgor, os vencedores são os que não dependem dela e cujo seu sucesso deriva da principal consequência do diferencial de taxas: um Euro fraco. Exportadores de luxo, como LVMH, Hermès, Ferrari ou exportadores industriais e automóveis, como a Siemens, Mercedes-Benz ou BMW, com a maioria dos seus custos de estrutura em euros, beneficiam de um Euro desvalorizado, tornando-se instantaneamente mais competitivos no mercado global.

Em suma, o investidor global não está a comprar “mercados”, mas sim o crescimento real americano e os benefícios da fraqueza europeia.

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