Mário Carvalho Fernandes analisou a evolução da economia e dos mercados destacando o crescimento robusto dos Estados Unidos e defendendo uma carteira diversificada e prudente perante a incerteza global.
“O PIB anual aponta para valores próximos dos 4%, 3,8%”, revelou Mário Carvalho Fernandes, Chief Investment Officer do Banco Carregosa, destacando que “a economia tem estado a crescer a um ritmo bastante acelerado, 3,8% no segundo trimestre”. Esta performance contrasta com as previsões iniciais que temiam o impacto das tarifas Trump. “O impacto das tarifas fez-se notar, com o aumento das importações a fazer front-loading às tarifas, impactando negativamente o PIB da economia americana no primeiro trimestre do ano, mas entretanto teve o efeito oposto”, explicou Mário Carvalho Fernandes na Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’ organizada pelo Jornal de Negócios e pelo Banco Carregosa, sublinhando que muitas tarifas “foram revertidas, ou parcialmente revertidas”.
“A taxa de desemprego está nos 4,3%, uma taxa historicamente baixa e, portanto, confortável ainda para a economia norte-americana”, afirmou, apesar de reconhecer “alguma fragilidade” que levou a Reserva Federal a descer taxas “precisamente para precaver esta situação de abrandamento”.
A grande questão é se os mercados em máximos históricos representam uma bolha. Para Mário Carvalho Fernandes, é normal o questionamento quando o mercado acionista faz novos máximos, o que poderia significar a entrada em alguma bolha.
Mas, “os lucros por ação destas empresas que acompanham o índice também estão em níveis máximos. E, portanto, esta subida do preço do mercado acionista, de certa forma, está fundamentada nos lucros que, efetivamente, existem”, acentuou Mário Carvalho Fernandes.
É difícil falar-se em bolha para já, apesar de haver alguns indícios de que se possa formar uma no curto prazo.
Mário Carvalho Fernandes, Chief Investment Officer do Banco Carregosa
Explicou que “estamos com um múltiplo de 20 vezes e a sua média é de 18”, mas defendeu que “estamos num momento de disrupção e que pode valer a pena esse prémio que está a ser pago atualmente e que não é, assim, tão exagerado que se possa falar de uma bolha”. E acrescentou dados concretos. “Olhando para várias métricas de múltiplos do mercado acionista norte-americano, vemos que, apesar de estarmos com múltiplos elevados, não estão em máximos, e quando em média temos múltiplos nesta ordem, a 12 meses o S&P 500 dá um retorno de 7,4% em linha com a sua média”. Na opinião de Mário Carvalho Fernandes, é “difícil falar-se em bolha para já, apesar de haver alguns indícios de que se possa formar uma no curto prazo”.
O grande receio moderado
A inflação permanece como preocupação, mas controlável. “Nos Estados Unidos a inflação continua a estar desconfortavelmente ainda elevada, mais próxima dos 3%”, admitiu Mário Carvalho Fernandes, referindo que “o corte de taxa de juros em dezembro não é certo” e “a probabilidade estará nos 50%”. Afirma que “a inflação está, de facto, a deixar de ser um problema gradualmente. Vai demorar mais tempo, tem o impacto das tarifas, mas olhando para os salários e para o preço das matérias-primas em termos globais percebemos que nenhuma destas variáveis está a impulsionar a inflação” e provavelmente no final de 2026 estará mais próxima dos 2% e a política monetária vai, aos poucos, ajustar-se a essa realidade”.
“Na Europa temos algumas situações que estão a apontar para uma recessão, nomeadamente a economia francesa, com situações específicas dessa economia, mais questões políticas e de dívida pública”, alertou Mário Carvalho Fernandes. “Economias também estagnadas, no caso da Alemanha, com algumas crises em setores específicos importantes do setor industrial alemão”. Ainda assim, “em termos de zona euro, a taxa de inflação continua bastante contida”, o que permite algum conforto.
Mas o verdadeiro problema está em França. “Nota-se ali o alargamento do spread da dívida francesa, que tem estado a sofrer um pouco com a instabilidade política em França”, observou Mário Carvalho Fernandes. E foi mais longe. “Mesmo agora com um potencial acordo para ultrapassar o problema do orçamento, a dívida não retrai porque não estão a resolver o problema, estão a adiá-lo”.
Face a este cenário, defende uma abordagem equilibrada. A carteira ideal, segundo Mário Carvalho Fernandes, deve incluir obrigações que “oferecem uma yield interessante e real, algo que já não acontecia há alguns anos”, ações, onde “continuamos a ver algumas oportunidades, embora estejamos neutrais e, eventualmente, aproveitado estas valorizações para não aumentar a exposição”, e ativos reais como “o imobiliário e até o próprio ouro, que tem estado a valorizar bastante este ano”.