“Para que exista inteligência artificial tem de existir, necessariamente, o hardware que a torne funcional. E isso depende das terras raras”, afirmou José Almeida, professor no ISCTE, no debate “IA nos Mercados Financeiros: Revolução ou Risco?”, integrado na Grande Conferência ‘O Futuro dos Mercados Financeiros’, organizada pelo Jornal de Negócios e pelo Banco Carregosa.
José Almeida alertou para a dimensão geopolítica do tema. “A ligação com os conflitos atuais é direta. A guerra na Ucrânia pode estar relacionada com o posicionamento geopolítico das terras raras nesse país. A Ucrânia também possui bastantes terras raras que não estão na Europa e, atualmente, grande parte delas está sob controlo da Rússia”, considerou. Referiu-se ainda à dimensão chinesa das terras raras, que tem levado a fortes posicionamentos geopolíticos e a negociações diplomáticas, como as dos Estados Unidos com a China, devido a este recurso estratégico.
Sobre a evolução tecnológica, foi categórico. “O crescimento que existe neste momento é exponencial” e salientou que a computação quântica está iminente. Os efeitos são já visíveis. “Há um ano, se fizéssemos um pedido ao ChatGPT ou criássemos uma imagem com inteligência artificial, a qualidade que tínhamos há um ano ou há seis meses, comparada com a que temos agora, é completamente descomunal”.
O fim do dinheiro físico
Para José Almeida, a ligação entre a inteligência artificial e os criptoativos é inevitável. “As criptomoedas são a tendência do dinheiro; este deixa de ser físico. A inteligência artificial não existe no físico, só existe no digital.” E apontou o caminho seguido pelos bancos centrais, “temos os bancos centrais a criar as CBDC (Moedas Digitais de Banco Central). Portanto, o dinheiro vai deixar de ser físico, claramente. Há uma tendência evidente para um alinhamento digital.” E destacou duas formas de influência da inteligência artificial, direta, através de machine learning, algorithmic trading e bots de investimento; e indireta, através do uso da inteligência artificial nas próprias empresas, o que permite reduzir custos e potenciar o seu crescimento.
Por outro lado, sublinha que se ganhou eficiência nos mercados com o ChatGPT, porque “há mais acesso à informação e mais informação a ser introduzida nos mercados”.
José Almeida apontou também aplicações práticas. “Podemos utilizar RegTech e tecnologia FinTech até para regulação, o que permite uma melhor governança e o levantamento de alertas em operações de branqueamento de capitais.” No credit scoring, “em vez de analisarmos manualmente todos os documentos, a inteligência artificial processa tudo de forma muito mais rápida, eficiente e com uma probabilidade de erro humano muito menor”, concluiu José Almeida.