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Carlos Tavares: “Europa arrisca-se a entregar indústria automóvel à China”

O ex-CEO do grupo Stellantis, Carlos Tavares, traçou um cenário preocupante para a Europa devido a erros de política industrial.

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Participantes conversam num painel do Millennium Estoril Open
Participantes conversam num painel do Millennium Estoril Open Hugo Monteiro
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Carlos Tavares alerta para os riscos que a Europa enfrenta na indústria automóvel e defende uma estratégia de longo prazo para garantir competitividade.

“A primeira coisa que se deve compreender é a situação dos Estados Unidos, é uma situação muito particular, de uma sociedade que está fragmentada e polarizada de maneira violenta, uma sociedade em que a produção de bens físicos perdeu a sua competitividade, a nível de custo, mas também a nível de qualidade”, considerou Carlos Tavares, ex-CEO do Grupo Stellantis, entrevistado por Diana Ramos, diretora do Negócios, no Millennium Portugal Exportador, um evento organizado pela Fundação AIP e pelo Millennium bcp.

Esta situação poderia ser uma oportunidade para a Europa. “O sucesso tecnológico do que é digital, de uma certa maneira, escondeu as fraquezas da produção de bens físicos” nos EUA. Em relação à postura americana considerou que “os Estados Unidos da América se tornaram num país que, nas suas relações internacionais é meramente transacional. É um país com o qual se fazem negócios, não é um país com o qual se discuta valores”.

Carlos Tavares criticou a decisão europeia da imposição do veículo elétrico. “A Europa fez um erro gravíssimo, que foi decidir uma tecnologia em vez de decidir um objetivo. A intenção era nobre, era reduzir drasticamente as emissões de CO2 dessa mobilidade, mas não se deve impor a tecnologia”.

Na sua opinião será catastrófico porque é “um caso espetacular de arrogância intelectual, de dogmatismo que tem um custo enorme e, no período de caos mais acentuado desta indústria, abriu-se a porta aos chineses, que estão a trabalhar nesse domínio há mais de 20 anos”.

Esta presença chinesa poderá conseguir rapidamente 10% de quota de mercado. Isto vai acontecer nos próximos cinco anos, o que, num mercado de 15 milhões de veículos, dará cerca de 1,5 milhões de carros, o que representa “10 fábricas de 150 mil veículos por ano”.

Os desafios da Europa e Portugal

Carlos Tavares descreveu o cenário do fim da indústria automóvel europeia, com as empresas a entrarem em dificuldades e com os chineses a comprarem as fábricas “por um euro simbólico, a ficarem com os postos de trabalho de todos e os governos dos países a aplaudir, e assim se vai dar a indústria automóvel europeia aos chineses com os aplausos dos governos locais”.

A Europa não pode proteger os cidadãos com uma riqueza que não está a criar. Tem de entrar na corrida e abandonar a ingenuidade. Carlos Tavares, Ex-CEO do Grupo Stellantis

O gestor alertou para o principal desafio europeu. “Não se pode dizer aos europeus que vamos protegê-los com uma riqueza que não estamos a criar, ou seja, a Europa tem que entrar na corrida. Tem que perder a sua ingenuidade e entrar na corrida”, sublinhou Carlos Tavares.

“O cancro da nossa sociedade europeia, e também da portuguesa, é o crescimento da tecnocracia e da burocracia”, descreveu o antigo executivo. Na sua opinião, Portugal terá de ganhar a capacidade de construir e executar uma estratégia de longo prazo, a 20 anos, assente numa “estratégia de diferenciação de competitividade que vai além do bloco europeu”. E acrescenta que “são cinco mandatos políticos. Portanto, só temos uma possibilidade. Chamar à responsabilidade os principais partidos políticos, nomeadamente os do centro, para que construam juntos esta estratégia”.

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