Rita Bonacho: “Não deve haver árvores proibidas”
“A segurança é um pilar fundamental para que o interior do país se desenvolva, nomeadamente na floresta também. Senão caímos no erro de estarmos sempre a ouvir falar da floresta pelas piores razões”, referiu Rita Bonacho, presidente da Associação de Produtores Florestais de Coruche e membro da Direção Alargada da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), no primeiro videocast “Agricultura no Feminino”, integrado na 14.ª edição do Prémio Nacional de Agricultura, uma iniciativa do Negócios, do Correio da Manhã e do Banco BPI, que conta com o apoio institucional do Ministério da Agricultura e Pescas e com a PwC como knowledge partner.
A segurança é importante porque “os incêndios, o roubo de cortiça e de infraestruturas grandes de rega, o vandalismo, têm efeitos e impactos profundos e extremamente duradouros na floresta”, diz Rita Bonacho, acrescentando que não são apenas os atos em si nem as culturas, mas o impacto que isso vai ter na exploração do agricultor, porque tudo aquilo que investiu fica destruído. “Temos de ter uma lei justa e equilibrada.”
Deu o exemplo do montado, que comparou a uma fábrica de produtos florestais. “O produto é a cortiça, mas são os sobreiros que o produzem. A partir do momento em que existe vandalismo, roubos de cortiça, de infraestruturas de rega e incêndios, desaparecem os postos de trabalho”, disse Rita Bonacho. Acrescentou que, se existe uma mão pesada e reguladora e o agricultor e o produtor florestal não podem cortar sobreiros secos, nem tirar cortiça sem uma autorização específica, “também tem de haver uma mão pesada quando existem estas lacunas da lei, não só em termos de quadro jurídico e quadro penal, relativamente a quando existem estes danos na agricultura e na floresta”, resume Rita Bonacho.
Estado mais liberal
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Para a presidente da Associação de Produtores Florestais de Coruche, “não deveria haver árvores proibidas. Cada árvore tem o seu lugar e a sua rentabilidade”. Defende que o mosaico florestal deve estar adequado ao território e que tem rentabilidades diferentes. “O que nos permite cuidar do montado é termos outras plantações que têm uma rentabilidade diferente e que nos permitem suportar estes ciclos longos da floresta”, disse Rita Bonacho. Considera que “o Estado devia ser mais liberal na gestão, muito mais, menos político, gerir com estratégia e não ter estes dogmas políticos e esta proibição tão extrema”.
Na opinião de Rita Bonacho, a transferência geracional na floresta é um desafio crítico e o papel dos jovens é muito importante em Portugal para a agricultura e a floresta, que têm sido secundarizadas. Durante a pandemia percebeu-se que quase todos poderiam parar de trabalhar, menos os agricultores, que tinham de continuar a produzir. A questão está em tornar a agricultura mais atrativa e desejável para os jovens, o que para Rita Bonacho passaria por criar condições de investimento, atratividade, valorização económica e dignificação da profissão. “Voltar a olhar para a agricultura e a floresta como um setor muito importante, estratégico e qualificado, porque as pessoas não gostam de trabalhar num setor que não é de alguma forma qualificado.”
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Nem Deus faz mais terra
Defende que tem de se fazer com a floresta o que se fez com o vinho, sobretudo porque esta é hoje, uma das consequências da pandemia, “altamente valorizada. Tudo o que é bem-estar, floresta, saúde mental, está mais provado que esta conexão com a natureza nos faz sentir bem. Portanto, estávamos no momento certo para conseguirmos fazer essa mudança. É só pormos as peças do puzzle nos sítios certos”, sublinha Rita Bonacho.
Esta transferência geracional é decisiva para a passagem de conhecimentos e de vivências práticas de muitos anos na agricultura e na floresta. Mas Rita Bonacho alertou que não se pode deixar ninguém para trás. “Não nos podemos esquecer dos que já trabalham na agricultura e já têm acima de 40 anos. Temos de continuar a investir nestes porque são a nossa base.”
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Rita Bonacho, que tem formação em Gestão, considera que os agricultores e silvicultores deveriam ter mais formação e ferramentas nas áreas de gestão. “A minha formação em Gestão ajudou-me a avaliar e a fazer umas análises que são extremamente importantes, porque a agricultura e a floresta são áreas estratégicas, mas empresariais.” Mas não deixou de sublinhar que “na agricultura e na floresta podemos ter uma taxa de rentabilidade mais baixa, mas a terra, nem Deus faz mais. A terra existe e será sempre valorizada.”
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