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Negócios distingue António Mota com Prémio Carreira

O Negócios criou este ano o prémio Carreira, com o objetivo de distinguir gestores cuja atividade ao longo dos anos tenha sido marcante. O júri criado para o efeito decidiu premiar António Mota. Alberto Castro, um dos membros do júri, explica neste texto o porquê da escolha.

Manuel Mota e Inês Mota (à direita na foto) receberam o prémio em nome do pai, António Mota.
Manuel Mota e Inês Mota (à direita na foto) receberam o prémio em nome do pai, António Mota. David Cabral Santos
20:25

Hermann Simon cunhou o termo “hidden champions”, que poderíamos traduzir por “campeões discretos”, para designar um conjunto de empresas (alemãs, no caso) com um desempenho acima da média, mas que se mantinham anónimas do grande público. Tal situação reflete, muitas vezes, a postura dos próprios empresários e gestores, centrados na sua função e avessos a protagonismos, mais ou menos, espúrios: mesmo quando as empresas se tornaram conhecidas, sabe-se pouco de quem está por detrás desse sucesso. Esses seriam, afinal, os verdadeiros “campeões discretos”.

O vencedor deste ano cabe nessa categoria, não porque fugisse das aparições públicas, mas porque nunca as procurou. Licenciado em engenharia, cedo começou a trabalhar com o pai, na empresa que este havia criado cerca de três décadas antes e que, em boa verdade, constituiu, desde sempre, o seu habitat natural, moldando-lhe a forma de ser e de entender a empresa. Durante vinte anos foi fazendo o seu caminho das pedras, num processo de grande proximidade e cumplicidade com o pai, por quem nutre uma enorme admiração. Sobe, formalmente, à liderança executiva da empresa em 1995, função para que estava mais do que preparado. Os anos subsequentes foram de grande expansão, tanto nacional como internacional, colocando novos desafios em termos de organização e gestão. Ciente disso, em paralelo com o crescimento da empresa, foi conduzindo um processo de progressiva profissionalização da gestão. Sempre sob a sua supervisão vigilante, iniciou-se um processo sistemático para ambientar, testar e afirmar a nova geração, com o mérito e as competências demonstradas, e não os laços de sangue, a serem critérios decisivos. Uma empresa familiar, dizia, não se pode dar ao luxo de não ter os melhores à sua frente. Sabia-o por experiência própria!

Um sumário destes, qualquer ChatGPT poderia produzir. Falta adicionar o lado humano, central na forma como o nosso laureado se envolveu, e conduziu a bom porto, a sua nau. Alguns episódios falam por si. Convidado a partilhar com alunos de gestão o seu percurso de vida, apresentou-se na sessão acompanhado por alguns dos familiares e colaboradores mais próximos, não se tendo esquecido de salientar o legado do seu pai. Um estilo, uma forma de estar e de gerir. Pretendia que ficasse claro que era apenas mais um, sendo que, para quem sabia ler nas entrelinhas, ele era o “um” que mais acrescentava. Não artigo indefinido, mas artigo bem definido.

Os seus discursos nas festas de Natal eram momentos únicos em que partilhava, com milhares de colaboradores e com total abertura, como se estivesse em família, as suas frustrações, os seus propósitos, os desafios comuns e os feitos alcançados. Ano após ano, emocionava-se ao evocar o pai e os trabalhadores que haviam partido em acidentes que lhe doíam na alma. E entusiasmava-se ao entregar os prémios aos trabalhadores mais antigos, cujas alcunhas conhecia e que abraçava como se fossem irmãos. Nada daquilo era encenado. Tudo era de uma simplicidade e humanismo que empolgavam. Alguém que associava a tudo isso um sentido de humor apurado, mesmo em situações difíceis. Numa ocasião em que lamentava o ano difícil e a falta de encomendas, comentou, inesperadamente: bem, há um lado positivo, ao menos não há pagamentos em atraso…

Se um líder é aquele que tem seguidores, aquela era a prova provada que ali estava um líder nato, admirado pelo seu estilo singelo, por ser um deles, em quem se podia confiar. Para ele a matriz familiar da empresa derivava não apenas da estrutura acionista, mas sobretudo dos milhares de famílias a quem assegurava o sustento. Um entendimento de responsabilidade social herdado dos pais, cujo corolário foi a criação de uma fundação como forma de organizar e expandir uma atividade filantrópica única no universo português.

A forma como soube passar o testemunho permitiu manter, quiçá reforçar, a matriz familiar do Grupo, associada a uma gestão profissional, garante de bom desempenho económico, sem alienar uma vertente socialmente comprometida.

Adivinharam: estamos a falar de António Mota! 

Os membros do júri O júri do Prémio Carreira do Negócios foi constituído por Luís Menezes (Ageas), Armindo Monteiro (CIP), Francisco Teixeira (WPP), Luís Santana (Medialivre), Alberto Castro (professor universitário) e Helena Garrido (jornalista).
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