O que aprendemos em 6 anos de liderança empresarial responsável
Seis anos após a criação do Center for Reponsible Business and Leadership na Católica-Lisbon, percebemos que as empresas já não nos perguntam: “Porque é importante a sustentabilidade?”. A questão agora é “Como a podemos implementar e gerar um business case?”.
Na verdade, de uma coisa temos a certeza: o futuro das empresas está, inevitavelmente, ligado ao futuro da sociedade, e esse exige sustentabilidade, como nos dizia Feike Sijbesma, "chairman" honorário da DSM. Esta conclusão é também retirada destes seis anos de contacto permanente com Grandes Empresas e PME no contexto português, bem como da nossa investigação de referência nos temas ligados à estratégia empresarial e sustentabilidade.
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Estes seis anos foram celebrados na semana passada, juntamente com a publicação da nossa 300.ª edição da newsletter “Have a Great and Impactful week”, que partilhamos semanalmente com mais de 3.000 líderes em Portugal e além-fronteiras. Ficamos também muito honrados pelo nosso trabalho ter sido também reconhecido pela ONU em 2024. Este reconhecimento orgulha-nos e responsabiliza-nos para o futuro (que queremos construir com e para as empresas em Portugal). Parte desta responsabilidade passa por partilhar as nossas três principais aprendizagens e consequentes compromissos de futuro.
1. Perante o contexto externo (geopolítico) cada vez mais incerto, a liderança responsável é uma vantagem crítica
Vimos ao longo destes anos três dinâmicas. Primeiro ninguém sabia bem o que
era a sustentabilidade. Depois tornou-se moda e todos queriam perceber como
desenvolver uma “sustentabilidade corporativa”, pois significava "goodwill" e
posicionamento de mercado. Num terceiro momento, com a crescente incerteza do
contexto global e a divisão de blocos, que contrasta com as agendas cooperantes
da sustentabilidade, sofremos um "backlash" nas políticas sustentáveis
empresariais, em que, por vezes, o melhor é nem dizermos que somos sustentáveis
("greenhushing"), não vá isso “estragar” o negócio. Neste momento, só os líderes
com visão de futuro, e que bem sabem que só podemos ter sucesso no negócio com
uma sociedade próspera (porque isto é mesmo o melhor para todos), é que mantém
as suas posições firmes. Privilegiam a criação de valor para todos os "stakeholders", no curto e longo prazo, pois sabem que fazer negócio só vale a
pena se estiverem a contribuir para uma sociedade com melhor qualidade de vida,
onde os colaboradores são felizes, os clientes bem servidos, os fornecedores
parceiros, o planeta e a sociedade locais de prosperidade coletiva e
individual. Só os “líderes responsáveis” têm esta visão, e como dizia Paul
Polman numa conversa que tivemos há dois anos “é melhor ir à frente e gerar
poeira, do que ir atrás e comer a poeira dos outros”.
Por este motivo o compromisso que temos para o futuro é responder a estas duas
questões:
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- O que é um líder responsável?
- Como é que a liderança responsável impacta a "performance" das empresas?
2. O propósito das empresas deve ser a sua razão de ser, que vai além do lucro, e as ajuda a conquistar uma vantagem competitiva sustentada e duradoura
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Quando, apesar deste "backlash", vivemos num capitalismo dos "stakeholders", é cada vez mais difícil gerir empresas de forma linear. Corresponder aos interesses e exigências de clientes, colaboradores, governo, fornecedores, sociedade, acionistas, tudo ao mesmo tempo, é difícil! Por isso temos de trabalhar o propósito corporativo e defini-lo bem! O propósito corporativo é a razão de ser de uma empresa, que está além do lucro, orienta a tomada de decisão, acima das agendas conflituantes dos "stakeholders", e ajuda a empresa a prosperar em conjunto com a sociedade, com uma perspetiva de longo prazo. Como dizia Charles Handy, professor na Harvard Business School, “The purpose of a business is not to make a profit, full stop. It is to make a profit so that the business can do something more or better. That 'something' becomes the real justification for the business”.
Por este motivo o compromisso que temos para o futuro é responder a estas duas questões:
- Como definir o propósito empresarial?
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- Será que o propósito leva os líderes a terem diferentes modos de pensar, decidir e criar valor?
3. A sustentabilidade é negócio e o custo da inação é muito maior do que os custo da ação (que é ótimo investimento).
Esta semana falava com Maximilian Schnippering, diretor de sustentabilidade da Siemens Gamesa, empresa tecnológica da Siemens especializada em renováveis, que dizia que trabalhar a sustentabilidade era importante porque esta era uma enorme oportunidade de ter mais lucro e fazer negócio. Que mesmo em momentos difíceis, o foco das empresas na sua abordagem sustentável deve ser o lucro e o negócio. Não podemos estar mais de acordo.
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Por isso, ao longo dos últimos anos sistematizamos quatro "business case for action" que as empresas podem adotar para “desenvolver oportunidades de negócio com a sustentabilidade”. Desenvolver uma estratégia de negócio onde a sustentabilidade é central é garantia de prosperidade de negócio, pois a sustentabilidade no "core" das operações gera atividades que são mais resilientes, recursos aplicados de forma eficiente, inovação criadora de valor, que aponta para caminhos de sucesso. Esta é a nossa experiência na relação estreita que mantemos com inúmeras empresas que acompanhamos e ajudamos no seu caminho da sustentabilidade como “core” de negócio.
Neste sentido, o compromisso que temos para o futuro é responder a estas duas questões:
- A sustentabilidade tem um argumento económico claro? Como prová-lo?
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- Como definir e operacionalizar uma estratégia alinhada com a sustentabilidade?
No caminho que traçámos, aprendemos ainda que sem as empresas o mundo não evolui! Estas têm um papel central neste processo de progresso de sociedade que precisamos. Detêm os recursos humanos, técnicos e financeiros necessários para liderar uma nova era de criação de valor sustentável. Por isso mesmo, estamos já, em cooperação estreita com o setor privado e público para lançar a discussão sobre o que será o futuro da próxima Agenda Global de Desenvolvimento Sustentável. No dia 10 de julho, iniciamos um ciclo de webinars com especialistas internacionais para refletir sobre o que virá depois da Agenda 2030 — e como o setor empresarial pode ter um papel ativo na construção de um futuro mais justo e próspero.
Manteremos a nossa missão de produzir conhecimento rigoroso ao serviço da prática empresarial sustentável. Daqui a seis anos esperemos que as nossas novas conclusões nos mostrem que o caminho traçado foi de serviço: nosso às empresas, e destas à sociedade.
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