Portugal nas boxes
Não há como um bom retiro pela estranja para nos apercebermos de como vai o mundo e do olhar que ele nos deita.
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O Global Convergence Forum, promovido anualmente pela Accenture, constitui uma das melhores oportunidades para nos confrontarmos com as mais recentes tendências da nova economia e nos apercebermos dos handicaps que fazem de Portugal um actor menor do teatro globalizante.
A edição 2004 desenrola-se em Barcelona, nessa cidade pujante e progressiva que Lisboa, capital da região lusitana, gostaria de poder emular e de cuja dinâmica está cada vez mais afastada.
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Definitivamente, Saramago errou.
A jangada de pedra que se separou da Europa numa viagem sem rumo não partiu de Irún, mas sim de Vilar Formoso. Onde terminará a sua deriva?
Uma das intervenções mais aplaudidas pelos participantes no evento esteve a cargo da equipa de fórmula 1 Williams-BMW. Foi uma verdadeira lufada de ar fresco na linguagem tecnocrática e maçadora que frequentemente domina o mundo dos negócios.
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Christopher Styring, coordenador da equipa, e Juan Pablo Montoya, um dos dois pilotos da famosa escudaria britânica, desconcertaram e divertiram o auditório com a simplicidade cristalina dos grandes profissionais.
Qual é, afinal, a chave do sucesso? O que faz da Williams uma das equipas mais tituladas do circo da fórmula 1?
Como tenciona suplantar os diabos vermelhos da Ferrari e regressar ao domínio nas pistas? A fórmula parece fácil e ao alcance de todos.
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Bastam cinco ingredientes para se construírem os campeões - marca, trabalho, preparação, arrojo e rigor.
Como em qualquer sector da actividade económica, a qualidade do brand-name é decisiva. É o prestígio sustentado da insígnia que alimenta a ambição, seduz os melhores profissionais e entusiasma os fãs.
A Williams tem orgulho na sua história, na excelência da sua equipa e na solidez da sua ligação com a BMW.
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Na sede da empresa, trabalha-se por turnos, around the clock, com os dias de Natal e de Ano Novo como únicas folgas colectivas.
Empenho, competência e dedicação profissional sem limites são requisitos indispensáveis para todo aquele que alimentar o sonho de vir um dia a fazer parte da organização.
Depois, vem a preparação minuciosa, o planeamento, tudo aquilo a que a condição latina é normalmente avessa (a própria Ferrari só regressou às vitórias quando deixou de ser comandada por italianos).
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Juan Pablo Montoya, na sua bonomia andina, não deixou de exprimir um queixume suave: «Por cada sessão de quinze minutos de treinos, há uma hora e meia de briefing preparatório, onde cada pormenor do carro, da pista e das condições atmosféricas é passado a pente fino. É uma maçada.»
O arrojo e o espírito de conquista constituem o quarto elemento da fórmula competitiva.
«Há que tirar o máximo partido das condições existentes, jogar no limite, sem nunca ultrapassar a linha de máximo risco. Um grama de pressão a mais no acelerador pode ser fatal.
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Se a máquina já esgotou todos os patamares possíveis de optimização e não conseguimos atingir a dianteira, o heroísmo do piloto de nada serve, há que re-engenhar o sistema», afirmou o combativo manager da Williams-BMW.
A Ferrari que se cuide para a próxima temporada automobilística. Por fim, o rigor, esse conceito compósito onde cabe toda a teoria e prática da moderna gestão empresarial.
«Tudo tem de estar a cem por cento. Meio milímetro a mais no diâmetro de um cilindro, um segundo perdido nas boxes, cinco minutos de sono a menos, podem custar-nos a vitória. A mínima falha será explorada, sem dó nem piedade, por um concorrente. Há sempre alguém capaz de tirar partido da mais insignificante das nossas fraquezas e de nos bater por um pêlo», concluiu Montoya.
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Nenhum manual de economia ou gestão conseguiria ser tão eloquente. Os que pensam que a atitude vivaça e dançarina, tão típica da nossa pequenez empresarial e governativa, é suficiente para assegurar o futuro de Portugal, que se desiludam.
A guerra competitiva do século XXI será implacável para com os inábeis.
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