Por melhores que sejam as intenções do Governo, por maior que seja o esforço dos profissionais de saúde, as falhas do sistema estatal ao nível da organização e gestão são gritantes. Estruturas rígidas e pesadas, mecanismos de controlo deficientes, sistemas de incentivos inexistentes.
Na administração central, nas autarquias, nos organismos autónomos, em tudo o que é público, o bicho burocrático está presente. Com a agravante de ter capturado os quadros mais jovens, os que em teoria lhe deveriam resistir e que na prática se deixam vencer.
Por alguma razão nunca ouvimos Gouveia e Melo falar de uma estratégia de vacinação, por mais que a covid seja uma praga. O homem do camuflado não abastarda conceitos.
Será crível que a nova ligação de metropolitano entre São Sebastião e Alcântara possa estar terminada até 2025, depois da polémica e dos atrasos que se conhecem na conclusão da linha circular?
Há que pôr termo ao preconceito. Boa gestão ao serviço do interesse público – é o que os cidadãos esperam.
O Estado Novo e o Império Colonial deixaram marcas profundas nas gerações do século passado, que o 25 de Abril só em parte conseguiu eliminar. Este caldo de experiências e sentimentos contraditórios continua a dividir os portugueses, por mais que ninguém (ou quase ninguém) deseje um regresso ao passado.
O governo britânico pagou, por debaixo da mesa, mais dinheiro à Astra-Zeneca. Que ninguém se admire se Nicolás Maduro conseguir mesmo trocar barris de petróleo por vacinas Oxford.
Há visões diferentes para o modelo de utilização dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, tanto quanto para os dos Quadros Financeiros Plurienais, que, no conjunto, ultrapassarão os 50 mil milhões de euros num horizonte de dez anos.
Sem ter assegurado a propriedade industrial das vacinas, a UE ficou nas mãos das conveniências políticas e industriais dos três produtores. As suspeitas de que há desvios para o Reino Unido, Estados Unidos ou Israel avolumam-se com os sucessivos incumprimentos dos prazos acordados.
Se 2020 foi o annus horribilis do novo século, 2021 não se prefigura como o ano redentor. Por paradoxal que pareça, o rol de incertezas que teremos de enfrentar é bem mais denso do que o vivido durante 2020.
Teria sido possível, em tempo útil, forçar os ex-accionistas do BES a uma extraordinária operação de saneamento financeiro? Por tortuoso e incerto que seja, escolheu-se um caminho, encontrou-se um comprador – o que mais dinheiro ofereceu, muito ou pouco – e agora há que honrar os compromissos.