Telmo Azevedo Fernandes 23 de Janeiro de 2013 às 23:30

Y = G + C + I + (EX – IM)

É transversal a todo o nosso espectro político louvar as exportações. Subentendido tem-se que as exportações são "boas" e as importações são "más" ou, pelo menos, um "mal menor". Diz-se que as importações levam à perda de empregos, a salários mais baixos e à recessão económica. A redução do défice da balança comercial é anunciada como uma excelente notícia.

Este consenso nacional tem explicação aritmética. O PIB (Y), estimado pela óptica da despesa, é calculado pela soma do consumo público (G), do consumo privado (C), do investimento (I) e das exportações (EX), subtraindo-se o valor das importações (IM). Com esta equação, parece portanto que a riqueza nacional diminuirá tanto mais quanto as importações aumentarem. Falso!

Na verdade, não se conta o que efectivamente o país produz, mas estima-se as despesas em cada componente do PIB. O valor das importações já está incorporado e diluído nas outras componentes da despesa através dos consumos intermédios vindos do estrangeiro e, por isso, apenas se efectua a subtracção daquilo que não é produzido em Portugal para não sobreavaliar a riqueza criada internamente.

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Consultando o "Prodata" verifica-se que os crescimentos dos défices comerciais estão normalmente associados a períodos de mais acelerado crescimento económico e de diminuição da taxa de desemprego. Igualmente, as reduções do défice comercial acontecem em momentos de recessão económica e crescente desemprego.

Os desequilíbrios da balança comercial traduzem a diversidade de padrões de consumo e poupança em diferentes países. Um acréscimo do défice comercial significa normalmente uma maior procura doméstica e maior investimento. Ou seja, o crescimento económico influencia a balança comercial e não o inverso.

As importações são tão benéficas quanto as exportações. Permitem-nos consumir uma maior variedade de produtos e a preços mais baixos. Ao mesmo tempo, estimula a concorrência, inovação e produtividade das empresas.

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Sem as importações, os custos de produção das empresas seriam mais elevados e maior seria a pressão para reduzir salários e trabalhadores. Nesta medida, as importações contribuem directa e positivamente para a manutenção do nível de emprego em Portugal.

Está agora em moda o conceito da "reindustrialização", identificando-se as importações como razão para a suposta quebra da produção nacional. A diminuição do peso relativo da indústria na composição da riqueza nacional ocorre há muito tempo e não significa que produção industrial deixe de aumentar em valor absoluto. A quebra no índice de produção industrial dos últimos anos é mais uma consequência do ciclo económico negativo do que uma desindustrialização estrutural devido à "concorrência" das importações.

É por estas e por outras que na sua edição de Natal, o "The Economist" nos dizia que um comércio internacional mais livre é a melhor forma de aumentar o crescimento das economias, com a vantagem de não envolver dispêndio de fundos públicos e, por conseguinte, não sobrecarregar os Estados com dívida.

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Todos deveriam ser livres de estabelecer trocas comerciais com quem bem entendessem, independentemente da sua nacionalidade. Sendo relações voluntárias e, portanto, de benefício mútuo, qual a razão de existirem impedimentos ou restrições ao comércio, limitando as escolhas livres das pessoas? O Estado decide melhor do que os indivíduos o que traz bem-estar a cada um de nós?

A intervenção do Estado é um atentado à liberdade e é injusta pois beneficiará não os mais pobres, mas sim os interesses especiais e corporativos de quem tem influência e poder, subvertendo dessa forma a igualdade de oportunidades e caucionando a expropriação de recursos de quem acabará por pagar directa ou indirectamente as barreiras e taxas às importações.

O único comércio justo, é o comércio livre!

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MBA. Especialista em Internacionalização

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