Os políticos na Mota
Se um dia António Mota, o gestor que consolidou o império do pai, contasse a verdadeira história da relação entre a Mota-Engil e o poder político, muito ficaríamos a saber sobre o país.
Como é discreto e tem um legado a deixar para os herdeiros, os poucos indícios chegam através de processos na justiça, a maioria dos quais acabam arquivados.
Como a história não esclarecida, mas que daria um excelente argumento para um livro policial, sobre a lista dos quatro políticos que receberam 4 milhões de euros da Lusoscut, um consórcio liderado pela construtora que ficou com a construção e exploração da auto-estrada do Grande Porto. O processo é o 482/04 e nele se refere que os políticos suspeitos das luvas milionárias estavam identificados por um código: a letra psi do alfabeto grego.
Em qualquer parte do mundo uma construtora que aposta nos megacontratos de obras públicas tem de saber lidar com as luvas dos políticos. E Portugal não será dos casos piores. As empresas portuguesas que foram à procura de mercados europeus ficaram particularmente chocadas com o apetite dos decisores políticos. E África ou América Latina, onde a Mota-Engil está a investir, são naturalmente áreas onde não se faz obra, nem se ganham contratos sem as boas graças de quem manda.
Desde o tempo de ministro dos Negócios Estrangeiros que Paulo Portas apostava fortemente na diplomacia económica. Ao aceitar a oferta do gigante português da construção abriu espaço para se questionar se a sua contratação é uma mais-valia para a construtora graças aos contactos políticos adquiridos enquanto exerceu funções públicas, ou se é uma forma de a Mota-Engil pagar eventuais salários em atraso.
A mesma dúvida que se colocou quando António Mota recrutou Jorge Coelho, que foi ministro com a tutela das obras públicas e Luís Parreirão, antigo secretário de Estado.
Director adjunto do Correio da Manhã
Mais lidas