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Cecília Meireles
02 de Janeiro de 2017 às 14:30

Um ano a andar para trás

Pensar no Ano Novo traz sempre uma certa sensação de esperança, de novidade e de expectativa. Seria muito bom pensar que 2017 trará exatamente isso.

O problema é que, se pensarmos em política ou em economia, torna-se quase impossível imaginar este 2017. No fundo, imaginar este ano em que já não há troika, planos e ajustamentos, e em que podemos finalmente começar a pensar em crescimento económico a sério, em vez de estarmos a ter discussões crónicas sobre escolhas impossíveis, facilitismos e crescimentos anémicos. Era realmente possível que 2017 fosse um ano de crescimento, e do tipo de crescimento que traz oportunidades reais de melhorar de vida para aqueles que as queiram, com trabalho e com mérito, aproveitar.

A má notícia é que tudo indica que este 2017 com esperança não vai chegar a existir. Ele vai sendo paulatinamente substituído por um 2017 dominado pelos verbos revogar, reverter e regressar. Uma espécie de acelerado regresso ao passado, em que no discurso há apenas propaganda e facilidades, mas em que na realidade os problemas se acumulam e os resultados não aparecem.

E isto é particularmente preocupante quando levamos em conta que a situação internacional é cada vez mais incerta e agitada. Por enquanto, e pelo menos do ponto de vista económico, ainda temos alguns dados favoráveis. A Europa continua a crescer, e o nosso principal parceiro comercial – a Espanha – cresce acima dos 3%. O Banco Central Europeu mantém a sua política de juros baixos, facto que tem importância fundamental para um país como Portugal em que a dívida pública, apesar de todas as promessas, não para de crescer. Mas mesmo esta política não tem apenas vantagens, muito pelo contrário, e as suas consequências no sistema bancário são já bem visíveis.

Em todo o caso, os tempos estão em mudança acelerada, e a prudência aconselharia a que nos concentrássemos naquilo que de facto podemos mudar no nosso país. 

Certamente que em 2017, como sempre, ouviremos muita gente a falar da necessidade de reformas, mas depois quase nenhuns concordarão com seja que reforma for em concreto. As mudanças a sério raras vezes se fazem em seis meses, e os seus resultados, regra geral, demoram anos a aparecer. É por isso que são tão pouco compatíveis com os ciclos eleitorais.

O que vamos ter é um 2017 a andar para trás, com o desfazer de reformas que só daqui a uns anos dariam verdadeiros resultados, e de repetição sistemática dos mesmos erros. Cecília Meireles

Em 2016 começámos a ver finalmente os resultados de algumas reformas. Em comparações internacionais de Educação, Portugal surge pela primeira vez acima da média da OCDE. Dados do INE confirmam descida acentuada da desigualdade em 2014 e 2015. E agora há um estudo da OCDE que confirma a qualidade da nova legislação laboral, mais flexível.

O Ano Novo poderia ser o tempo em que tomamos a decisão de continuar em frente com estas reformas, e em que investimos noutras, bem necessárias, como a desburocratização e a simplificação do Estado.

Em vez disso, parece que o que vamos ter é um 2017 a andar para trás, com o desfazer de reformas que só daqui a alguns anos dariam verdadeiras resultados, e de repetição sistemática dos mesmos erros que não nos trouxeram nada de bom. É pena. Em vez de esperança, vamos ter apenas mais uma série de oportunidades perdidas.

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