João Carlos Barradas 31 de Janeiro de 2017 às 19:15

Agora, Marine Le Pen

Nas eleições presidenciais de Abril, em França, Marine Le Pen passará à segunda volta, mas é cada vez mais incerto quem poderá obstar a que a candidata de extrema-direita chegue ao Palácio do Eliseu. 

Benoît Hamon, após vencer as primárias do Partido Socialistas, foi imediatamente contestado pela ala direita que apoiara o derrotado ex-primeiro-ministro Manuel Valls.

 

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O triunfo do homem da ala esquerda não garante sequer o pleno dos votos socialistas e dificilmente Hamon poderá levar Jean-Luc Mélenchon, que abandonou o PS em 2008 e concorre às presidenciais em nome da France Insoumisse, movimento criado há um ano, e Yannick Jadot, dos Verdes, a desistirem das suas candidaturas.

 

Pelo menos um quarto da intenção de voto à esquerda poderá, assim, dispersar-se na primeira volta no final de Abril.

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O homem probo, católico e de boas famílias François Fillon está, por seu turno, em queda livre desde que o semanário Le Canard Enchaîné - um grande exemplo do melhor do jornalismo de investigação independente - denunciou pagamentos na ordem dos 900 mil euros brutos à esposa do candidato como putativa assessora parlamentar e fantasmática colaboradora da revista propriedade do milionário amigo.

 

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O afundamento da candidatura do antigo primeiro-ministro de Nicolas Sarkozy arrisca deixar o centro e a direita sem representante condigno a menos que a eventual desistência de Fillon justifique que os vencidos das primárias d'Os Republicanos, Alain Juppé e Sarkozy, se sacrifiquem pela pátria.

 

O panorama é, contudo, desolador e pela banda da direita ao esboroar-se o capital político assegurado por um quarto das intenções de voto começam a esvair-se apoios potencialmente perdidos para o candidato que se diz além da dicotomia direita-esquerda.

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Emmanuel Macron, nascido em 1977, vindo dos serviços de finanças e banca de investimentos, vagamente socialista e ministro da Economia entre 2014 e 2016, lançou a sua candidatura em Abril com o movimento "En marche!".

 

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Dizendo-se liberal por "acreditar nos homens" e apostado no "interesse geral", Macron, apesar de já somar cerca de 20% das intenções de voto, ainda não definiu opções em matérias económicas e financeiras, nem em questões de segurança e política externa. 

 

Acusações incipientes de que Macron teria utilizado indevidamente fundos governamentais para promover o seu movimento não fizeram mossa, mas a probidade no mundo político deixa a desejar e surpresas indesejáveis podem deitar tudo a perder.

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Macron ao somar intenções de voto que sobram dos fracassos alheios espera passar à segunda volta, mas, frente a Le Pen, vai precisar das máquinas partidárias à esquerda e à direita e isso terá o seu preço ao tentar formar listas próprias do "En Marche!" para as eleições legislativas de Junho.

 

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No lado mau, pelo menos 25% das intenções de voto vão para Marine Le Pen.

 

A candidata de extrema-direita conta também com a sua quota de escândalos (acusação de pagamentos indevidos a assessores parlamentares no Parlamento Europeu), mas uma campanha consistente desde 2011, pensada com o seu principal colaborador Florian Philippot, cava cada vez mais fundo.

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Recuperação da soberania financeira, com acordo de desmantelamento da Zona Euro ou referendo sobre retorno ao franco e saída da UE, proteccionismo económico e privilégio nacional na contratação com limitações à imigração e imposição do laicismo de Estado sem contemplações para laivos de exclusivismo muçulmano são linhas de força da propaganda da Frente Nacional.

 

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Muito mais do que fronda de protesto, Marine apresenta-se como alternativa de poder, tentando evitar o estalar de conflitos com a facção mais próxima da extrema-direita católica tradicional liderada pela sobrinha Marion Maréchal-Le Pen.

 

A influência do partido é, sobretudo, cada vez mais acentuada no principal segmento do eleitorado: cerca de 14 milhões de votantes com rendimentos anuais inferiores a 20 mil euros, do operariado a profissões com qualificações profissionais e académicas mais baixas.

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A Frente Nacional tende, também, a alargar a área de influência além do nordeste, leste e sudeste e é desde as eleições europeias de 2014 (25%) e das eleições regionais de 2015 (apesar de falhar a conquista de qualquer das 18 regiões em disputa conseguiu 27% dos sufrágios) o maior partido de França.

 

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As sondagens ainda vão dando Marine Le Pen como fatalmente derrotada na segunda volta pela conjugação de voto à direita, centro e esquerda, mas não é de fiar que tal tendência se mantenha sem alteração.

 

Dar como garantida a derrota da extrema-direita em França à segunda volta peca por excesso de optimismo e surpresas desagradáveis não têm faltado ultimamente.

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Jornalista

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