Jorge Fonseca de Almeida 15 de Maio de 2018 às 22:43

De primeiro para último: lições do Festival da Eurovisão

Portugal a jogar em casa e acedendo diretamente à final por via da sua vitória na última edição do Festival da Eurovisão da Canção conseguiu a inédita proeza de se passar de primeiro, num ano, para último lugar no ano seguinte.

É o que acontece quando se ganha com base no talento individual excecional, na simpatia granjeada ou por outros motivos extracompetição.

 

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Vitórias não alicerçadas no mérito coletivo, nem no trabalho continuado, inteligente e persistente, tendem a não ser sustentáveis e a surgir como meros fogachos sem futuro.

 

Esta lição serve para muitas áreas da vida humana nomeadamente as vertentes económica e empresarial.

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Quantas vezes assistimos nos últimos anos a milagres económicos de crescimento, como o que se seguiu à entrada na União Europeia, a transformarem-se em pesadelos de longa duração. Como o falso "bom aluno" de um ano ou dois que se revelou o pior pupilo da turma do euro.

 

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Quantas vezes vimos empresas portuguesas aclamadas pela sua fulgurante internacionalização (Portugal Telecom, Cimpor, Millennium bcp, Banco BPI, etc., etc.) para logo compreendermos que esse passo fora maior do que a perna e que apenas serviu de prelúdio antes de serem engolidas por multinacionais de outros países.

 

Quantas vezes passamos de pelotão da frente para encostados ao carro-vassoura que fecha a corrida?

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Porque não conseguem as elites políticas, económicas, culturais do nosso país um desempenho consistente ao longo do tempo? Porque desperdiçam sistematicamente as posições alçadas e não se mostram capazes, ao contrário de outros, de as consolidar e prosperar? Porque é que as suas escassas vitórias mostram sempre ter pés de barro? Porque são sempre os seus resultados insustentáveis?

 

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Em primeiro lugar porque não compreendem o objetivo da competição. O objetivo não é ganhar. O primeiro lugar é sempre fortemente disputado, podendo ser obtido passageiramente por qualquer um dos concorrentes. O objetivo em qualquer atividade não é pois ganhar num ano, mas manter-se no lote dos mais fortes durante muito tempo.

 

Uma empresa pode, por uma política suicida de preços ou de excessivo investimento publicitário, obter a maior quota de mercado num dado ano mas por essa via não conseguirá manter a sua posição e logo desaparecerá do mercado. Ganhar é fácil, perdurar nos lugares cimeiros eis o difícil.

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Explorar uma conjuntura favorável, alavancar um talento, trocar o curto pelo longo prazo, tudo isso permite um falso êxito momentâneo, mas nada disso permite perdurar e é até receita para uma queda que, tantas vezes, se revela fatal.

 

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É tempo de mudar de rumo.

 

Economista

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Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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