O mundo da finança e a conduta sexual imprópria
O #MeToo, movimento internacional contra o assédio sexual, embora estranhamente silencioso em Portugal, tem avançado por várias áreas da atividade humana em que a violência e a conduta sexual inapropriada se manifestam. O movimento ganhou visibilidade com as acusações a Harvey Weinstein um famoso patrão de Hollywood fundador da produtora cinematográfica Miramax, entretanto, preso e em julgamento.
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Agora as atenções do movimento alargam-se para o mundo da finança, com vários grandes investidores globais a exigir dos gestores e das empresas que divulguem o seu histórico em termos de casos de assédio sexual.
Grandes investidores no mercado financeiro, nomeadamente vários gigantescos fundos de pensões norte-americanos, exigem agora uma grande transparência da parte das empresas e dos gestores sobre estes casos como requisito de investimento. Estes grandes fundos não querem ser cúmplices de práticas condenáveis nem de crimes de natureza sexual cometidos sobre mulheres.
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Apesar de o movimento ser recente, está a alastrar, e as autoridades reguladoras norte-americanas pensam vir a tomar medidas que obriguem as empresas a tornar públicos estes casos e a forma como tratam com eles.
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No ano passado, um dos maiores investidores mundiais, a Fidelity Investments, enfrentou um processo mediático. A decisão da empresa foi drástica e exemplar. O gestor em causa foi sumariamente despedido e, na sequência, a empresa procedeu a uma auditoria interna sobre casos semelhantes que redundou numa série de outros despedimentos.
Muitas empresas cotadas estão já a preparar-se para incluir este tema na lista dos seus valores e criar as condições internas para prevenir, detetar e punir com celeridade este tipo de condutas.
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O escrutínio está a aumentar e a opacidade nesta, como noutras matérias, surge aos olhos do mercado e da opinião pública como confissão de más práticas.
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Como sabemos, a cultura empresarial portuguesa é particularmente permissiva a este tipo de condutas e tem uma forte tendência para culpar as vítimas e proteger os prevaricadores. Esta atitude tem de mudar.
É importante que as empresas portuguesas especialmente as listadas na Euronext iniciem o seu trabalho de casa, fazendo um diagnóstico profundo da sua situação e tomando as medidas necessárias para poder passar este exigente teste. Não será positivo para as suas cotações ter telhados de vidro.
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Por seu lado, os reguladores fariam bem em não esperar por outros e tomar a iniciativa localmente e internacionalmente. Assim, a sua influência no resultado final será seguramente maior e ajudariam as empresas a preparar-se para o que aí virá de regulamentação europeia e internacional.
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Perante a mudança, muitas empresas, quais avestruzes económicas, metem a cabeça na areia e pensam "modernices americanas", mas a verdade é que num mundo globalizado os novos regulamentos e requisitos acabam por as afetar mais depressam do que imaginam.
Economista
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Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
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