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Para que serve a RTP?

É tido por natural que um canal privado de televisão possa tomar partido sobre questões de política geral, não mostrar isenção, não garantir o contraditório, promover determinados pontos de vista, escolher comentadores que reforcem a sua posição e adiante.

Afinal, trata-se de um negócio privado e ninguém pode contestar a maneira como os acionistas acham que garantem lucro.

A maioria já percebeu isto e relativiza a informação televisiva. Aliás, há mais mundo para além da televisão. As redes sociais têm hoje um papel decisivo na formação de opinião. Basta ver o resultado das últimas eleições para se perceber como o condicionamento ideológico televisivo não funciona. Não só cá. O Brexit é outro bom exemplo. A maioria dos canais apoiava a continuação na Europa, o povo votou pela saída. Isto sem juízo de valor sobre a decisão.

Não se podendo, do ponto de vista da liberdade, contestar a estratégia seguida pelos canais privados pode contudo questionar-se se ela é inteligente. Com uma maioria dos portugueses a votar à esquerda, como se pretende ganhar audiência com uma informação tão marcadamente alinhada com a direita? No mínimo seria recomendável que se procurasse algum equilíbrio, que houvesse alguma atenção em fornecer vários pontos de vista. Mas não. Será por cegueira ideológica ou por incompetência na gestão, mas os canais privados tornaram-se meros porta-vozes da visão de direita da nossa política e da nossa sociedade.

Sucede que existe um canal público e, talvez por inércia, segue exatamente a mesma posição ideológica informativa dos restantes canais. Aliás, frequentemente, é ainda mais tendencioso. Ora isto não é tolerável. Aqui não há lugar a argumentos de gestão privada. Os acionistas da RTP são o povo português. E o povo, na sua maioria democrática, tem direito a isenção, independência, uma informação assente nos factos, não nas opiniões, e estas sujeitas a contraditório e diversidade. Tal como está a informação televisiva da RTP não corresponde minimamente a qualquer definição de serviço público.

A entrada de alguns jornalistas considerados mais isentos, como António José Teixeira ou Ana Lourenço, não teve qualquer efeito prático. A informação da RTP continua a ser parcial, sensacionalista, por vezes reacionária, primariamente antigoverno como se isso fosse garantia de independência, sobretudo para quem não esquece como até há pouco foi tão pró-governo de Passos Coelho.

Enfim, não se trata de pretender partidarizar o canal público de televisão. Isso aconteceu no passado e não é mais aceitável. Pelo contrário trata-se de exigir verdadeira independência e uma informação conforme à realidade e não à posição política de quem a escreve ou diz.

Em tempos a informação dependia da fiabilidade, ou seja, da confiança. Um canal, um jornal, eram tidos por bons quando os consumidores tinham confiança na sua informação. A confiança era o principal ativo de um órgão de informação. Que as televisões privadas tenham abandonado o primado da confiança e se tenham tornado num campo de disputa partidária é com elas. Mas a televisão pública é outra coisa. Pertence ao conjunto dos cidadãos e estes têm o direito de serem informados sobre factos reais, em toda a sua complexidade, e não sobre a reduzida visão de uma particular tendência político-partidária.

Infelizmente, hoje a RTP não merece essa confiança. Perdeu o seu principal ativo. E com ele perdeu a sua razão de ser. Para que serve um canal público que é igual aos outros?

Artista Plástico

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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