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Pedro Santana Lopes - Advogado
30 de Março de 2017 às 00:01

Oito ou oitenta 

Por cá, o Banco de Portugal (BdP) reviu em alta as projeções de crescimento da economia para 2017, 2018 e 2019. Além disso, a bolsa de Lisboa atinge máximos dos últimos 10 meses e, no geral, sente-se um clima de onda positiva.

Apesar disso, os juros da dívida a 10 anos oscilam em patamares superiores aos desejáveis, o sistema financeiro melhora, mas tem ainda focos de incerteza, nomeadamente na Caixa Geral de Depósitos, no Novo Banco e no Montepio. No Reino Unido, Theresa May aciona o Artigo 50 e mostra-se firme no seu trajeto, mas a Escócia anuncia querer descolar. Nos Estados Unidos, Trump segue o seu insólito caminho e Wall Street tem quase todos os dias rejubilado, mas, entretanto, vários reveses vão surgindo, desde a retirada da votação da "bill" contra o Obamacare até às investigações sobre as ligações à Rússia de colaboradores do Presidente. A União Europeia comemora 60 anos, ultrapassa o susto da Holanda, mas a Declaração de Roma contém, tão-só, um conjunto de proclamações gastas. O mundo hoje em dia é isto, ainda mais do que sempre foi: oscilante, titubeante, saltitante, entre a recuperação e a convulsão.

No meio de tudo isto, a economia europeia e mundial procura encontrar oxigénio e forças para sair da estagnação duradoura em que tem vivido. Mais ainda a economia portuguesa, que em muitos aspetos constitui um verdadeiro enigma. Quem oiça o Governo e depois oiça a oposição fica mesmo intrigado. Está bem que são frequentes, feliz ou infelizmente, esses desencontros entre maiorias e oposições. Mas no caso português, a diferença vai entre o anúncio do progresso acelerado ou, pelo outro lado, do novo cataclismo económico e social. As diferenças não são de facto pequenas. E quem vá consultar os indicadores após ouvir esses discursos pode ficar confuso porque, por exemplo, os níveis de endividamento privado preocupam, mas ao mesmo tempo o controlo do défice orçamental superou todas as expetativas. João César das Neves e Teodora Cardoso têm explicado, mais do que quaisquer outros, o ceticismo ou mesmo a reserva profunda quanto ao significado dos resultados anunciados. Mas depois quem oiça o Presidente da República ou os próprios órgãos da Comissão Europeia fica novamente intrigado.

Falámos no início do texto de oscilações noutras paragens do mundo entre o insucesso e o êxito. É complicado, porque o mundo está cheio de dúvidas sobre o modo de resolver as suas encruzilhadas, mas em Portugal é mais do que isso. Ao fim e ao cabo é entre dois futuros completamente antagónicos e que significarão condições de vida completamente distintas para as famílias portuguesas. De qualquer modo, manda a justiça reconhecer que algumas das previsões da oposição não se confirmaram durante estes meses, quer nos resultados económicos, quer até nas relações com a União Europeia. Aliás, quando se diz que o défice só foi possível graças a receitas extraordinárias, está-se a esquecer que o mesmo aconteceu, repetidamente, em anos anteriores, quer nesta década, quer na que a antecedeu. A oposição ia garantindo que seria impossível o défice de 3% e que este mês de março, se não fosse antes, traria a revelação de tudo o que se teria andado a esconder, mas o Banco de Portugal voltou a falar e não disse nada disso. O povo português continua a tentar perceber de que lado está a razão, mas, compreensivelmente, preferindo que ela assista a quem difunde boas notícias. É assim a vida. 

Advogado

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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