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A fantochada

Por esta altura muita gente no PSD já terá percebido que Pedro Passos Coelho não é uma esperança, mas uma desilusão.

Jovem e com a frescura própria de quem nunca teve grande protagonismo político, surgiu como o redentor de um partido marcado por sucessivas lideranças falhadas. Mas o estado de graça depressa foi esmorecendo. A trapalhada com a inoportuna e inusitada revisão constitucional revelou um político com dificuldade em distinguir o essencial do acessório, perdendo tempo, o dele e o nosso, com batalhas sem sentido. Tanto mais que, nessa altura, o país já se encontrava no meio de um furacão financeiro. Embora de origem internacional, veio trazer à tona a realidade de uma economia excessivamente dependente do Estado e do dinheiro dos contribuintes.

Mas é na gestão política da viabilização do orçamento que Passos Coelho tem revelado a sua incrível impreparação. Há semanas que o país vem assistindo a contradições diárias, ora mostrando-se disposição para deixar passar, ora ameaçando com o chumbo, num jogo totalmente irresponsável. Para cúmulo, depois de mais uma negociação falhada, na quarta-feira passada o PSD convoca os jornalistas, à hora dos telejornais, para anunciar a sua decisão definitiva. Chegado o momento mágico, a decisão é afinal o anúncio de novo adiamento da decisão.

É claro que todos percebemos a razão de tanta vacilação. Passos Coelho sabe que, no final, terá de deixar passar o orçamento mas quer fazê-lo de forma a ficar o melhor possível na fotografia eleitoralista. Como esse tipo de fotogenia é difícil de construir, já que o sistema é complexo, a hesitação e manobrismo imperam. A situação concreta do país e dos portugueses é, para este efeito, uma variante menor. Aliás, alguém poderia fazer as contas de quanto já custou ao Estado português este jogo insano do PSD. E não falo de custo de credibilidade interna e externa, mas de dinheiro contado com os juros da dívida a subirem a cada vez que Passos Coelho se dá ares de jovem irreverente. E inconsciente.

Bem vistas as coisas, Passos Coelho ainda não saiu da JSD.

Mas, infelizmente, a insânia não afeta só a direção do maior partido da oposição. É no mínimo curioso que toda a gente diga que o orçamento é mau, mesmo péssimo para alguns, mas todos acham que deve ser aprovado. Aqui desconta-se o Partido Comunista e o Bloco que há muito não habitam o planeta Terra e, enquanto extraterrestres, tanto se lhes dá se vamos para a bancarrota ou não.

Até Pacheco Pereira, pouco dado a moderação como se sabe e sem o mais leve resquício de apreço pelo Governo, diz que ou se aprova o orçamento ou temos o caos. Mas caso mais caricato é o da UGT. Aderiu à greve geral contra um orçamento que exige que seja aprovado. De tanta figura patética que João Proença tem feito, na sua dupla condição de ser do PS e contra o Governo, esta é realmente inacreditável.

Há dias, Manuel Salgado disse-me que o problema da gestão política podia ser descrito com um exemplo simples. Há gente que quer divertir-se no Bairro Alto mas há outros que querem dormir. A conciliação é impossível. Qualquer coisa que a Câmara faça desagrada sempre a alguém. Aqueles que por estes dias dão inúmeros conselhos ao Governo para cortar aqui e ali, apontando defeitos no orçamento com a ligeireza das aparições nos telejornais, omitem que as coisas nunca são tão simples como parecem. Basta dizer que o próprio PSD que agora é tão radical no corte, sempre que esteve no governo aumentou significativamente a despesa pública. Tanto com Cavaco Silva, grande despesista aliás, como com Manuela Ferreira Leite.

Sendo certo que de momento o corte tem de ser brutal, dada a urgência, o estado de coisas só se altera mudando lentamente a estrutura económica do país. E isso não é feito com as demagogias do costume, estilo o vão trabalhar malandros do CDS ou a visão tradicionalista e nacionalista do PC, mas com um processo continuado de formação e modernização cultural, científica e tecnológica.

Hoje pode existir uma união nacional do ódio a Sócrates. Mas uma coisa já ninguém lhe tira. Só a geração Magalhães poderá realmente mudar Portugal.

Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.

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