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João Quadros - Argumentista
04 de Fevereiro de 2011 às 12:12

Desnorte no Nilo

Os números podem ser tão hipnotizantes como os movimentos da flauta do hipnotizador

Os números podem ser tão hipnotizantes como os movimentos da flauta do hipnotizador* - com um crescimento de 6,5%, um défice externo de 17%, um défice orçamental (previsto para 2015) de 3,5% e "reports" muito favoráveis do Fórum Económico e Mundial, o Egipto surpreendeu os mercados e foi ao fundo. Desta vez foi a bolha do povo que rebentou.

A minha televisão está estacionada no canal Aljazeera há uma semana. Não saio de casa sem saber como está o trânsito no Cairo e conheço melhor as principais rotundas de Alexandria do que Guimarães. Estou obcecado pela revolução egípcia. Fico empolgado quando vejo praças cheias de gente quase tão exaltada e indignada como os portugueses anti-acordo ortográfico que vêem escrito - Egito - na TV.

Podem cortar telefones, expulsar televisões, proibir o uso da internet mas é impossível silenciar o ruído de milhões de estômagos vazios. O Bloco de Esquerda exaltava com a impressionante manifestação de 2 milhões de pessoas que, como formigas, enchiam a Tahrir Square; a mais importante e simbólica praça do Egipto. Estou com eles. É emocionante ver tanta gente mas, por outro lado, é deprimente ver fisicamente representada a votação no professor Cavaco - como vocês dizem: "ainda é muita gente!"

As imagens captadas, à distância, pela Aljazeera mostram uma praça e uma multidão que se assemelha a Fátima mas com pessoas em roupão. O impasse é enorme (a manifestação no Cairo está mesmo a pedir um wally, ali no meio, para descobrir, e entreter, enquanto esperamos). Perante a revolta do povo a primeira acção do presidente egípcio foi a chamada pancada mas depois reagiu despedindo tudo o que se mexe à sua volta, menos ele próprio. Mubarak é o antónimo do José Eduardo Bettencourt.

No meio desta confusão, a Esfinge de Gizé, considerada a escultura mais enigmática do mundo, não consegue ser tão indecifrável como as declarações da Casa Branca - "the change must start now…as soon as possible". Os americanos estão confusos - Mustafa Elbaradei tem demasiado ar de frete para líder democrático, mas talvez seja "jetlag"… Os Israelitas não estão confusos.. Nunca estão. Estão preocupados com a confusão. Hillary Clinton parece ameaçar retirar a Mubarak o "franchising" de Tirano Democrata Amigo dos EUA... Para os Estados Unidos os ditadores são como o colesterol: há o bom e o mau. Tudo indica que Mubarak passou de HDL para LDL.

No momento em que escrevo a crónica, Mubarak discursa e diz que favorece uma transição tranquila (vai buscar soporíferos e deitar na água da rede?) Anuncia que não se recandidata mas vai tratar da transição. Para os manifestantes soa a: "estou a pisar-te o calo, mas juro que daqui por seis meses eu tiro o pé e não volto a pôr". Acho que não há retorno. É melhor Mubarak fazer as malas de crocodilo antes que o atirem ao Nilo.

Por outro lado, se bem conheço os egípcios, eles não vão aceitar que Mubarak se vá embora sem regatear o poder. "Fico mais seis meses!", diz o ditador. "Dois dias", diz o povo. "Sete semanas e meia", contrapõe o danado Hosni. "90 minutos", gritam os egípcios. "Até ao EuroFestival da Canção", diz Mubarak e, de seguida, pede cinco minutos e telefona a Luís Filipe Vieira, a pedir ajuda, na esperança de conseguir chegar a trinta e a bilheteira de um jogo amigável com Israel.

* reparem que nesta analogia os mercados são as cobras venenosas. Sou a favor do insulto aos mercados mas de forma discreta, para não sermos prejudicados por eles. O respeitinho é muito bonito.

Separadas à nascença

Esta Ministra da Educação é, até fisicamente, um boneco dos Simpsons. Edna Krabappel é o nome da personagem separada à nascença da nossa Isabel Alçada.

E é uma grande coincidência porque Edna também é professora, também é uma "caricature of the public school system" e também é fogosa mas não apenas com as escolas privadas.

P.S. - o que eu mais gosto nesta polémica das privadas são os nomes das escolas: a Henriques Nogueira , a Seromenho Antunes; a Natércia Magalhães; a Porfírio Lombares, a Saladino Pascoaes, a Damasceno Pires…era capaz de ficar nisto um ano lectivo.

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