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André Pires de Carvalho andre.carvalho@bain.com
30 de Março de 2009 às 12:01

Internet móvel: novo motor de crescimento das operadoras

Há muito que o fenómeno da Internet móvel (analisado aqui na sua vertente telemóvel/"smartphone") foi identificado como um dos novos motores de crescimento das receitas das operadoras móveis. A realidade é...

Há muito que o fenómeno da Internet móvel (analisado aqui na sua vertente telemóvel/"smartphone") foi identificado como um dos novos motores de crescimento das receitas das operadoras móveis. A realidade é que dos cerca de 700 mil milhões de euros de receitas globais que o sector gerou em 2008, a parte correspondente aos serviços de acesso à Internet ainda representa só cerca de 9%, com quase 40% destas a serem provenientes de um único país: o Japão. No entanto, os níveis de crescimento actuais começam a acelerar significativamente em todas as regiões do mundo, apesar de se estar a partir de uma base pequena.

Para as operadoras, a relevância do tema é grande e tem uma razão óbvia: nos Estados Unidos e na Europa - e aqui Portugal não foge à regra - o crescimento das suas receitas tem vindo a ser pressionado de maneira considerável. As causas desta pressão também estão à vista: saturação do mercado e uma pressão contínua nos preços que, por sua vez, resulta da existência de um elevado grau de concorrência. Um estudo recente estima que nos países industrializados o crescimento das receitas das operadoras móveis entre 2010 e 2013 cairá de 6% para 2% ao ano. Tal significa que, sem angariação expressiva de novos clientes e com quebras de preços, as operadoras estão à procura de novas vias de crescimento. É aqui que se espera que a Internet móvel venha a desempenhar um papel importante. Cada operadora deve pois ter claro qual é a melhor forma de estimular o crescimento desse fenómeno.

Para se abordar a questão, é útil analisar aquelas que têm sido as barreiras ao aumento da adopção dos serviços de Internet móvel pelo grande público, entender qual é o panorama futuro que se antecipa para as mesmas e reflectir de que forma as operadoras podem actuar sobre elas.

Em primeiro lugar, tem havido um grupo de barreiras de natureza mais técnica: interfaces complexos e pouco intuitivos, ecrãs muito pequenos, baterias com uma vida útil limitada e baixas velocidades de navegação. A tendência é claramente positiva para todos esses factores, com "smartphones" cada vez mais fáceis de usar e com ecrãs de tamanho aceitável, baterias com uma vida útil razoável e redes de nova geração, implantadas pelas operadoras, que aumentam dramaticamente a velocidade de navegação.

Uma segunda barreira é o alto nível de complexidade e fragmentação do "ecosistema" de conteúdos móveis: o grande número de diferentes tipos de plataformas e aparelhos, além de redes e operadores com requerimentos técnicos incompatíveis entre si, levam a que o custo de desenvolvimento de aplicações se torne proibitivo. Aqui há uma diferença fundamental entre a Internet fixa e a móvel - enquanto na Internet fixa há uma alta estandardização de sistemas e tecnologia, na móvel esta é ainda incipiente.

Daqui resulta um grande número de aplicações que só estão disponíveis em certas plataformas, muitas de baixa qualidade e sem oferecer uma proposta de valor suficientemente interessante para atrair uma massa crítica de clientes. Nesta área, também há sinais positivos, com o crescimento da importância de sistemas operativos para "smartphones" em regime de "open source" e de empresas que começam a proporcionar à comunidade de programadores ferramentas para desenvolver aplicações que possam ser utilizados nos seus sistemas, como a Apple tem vindo a fazer com o IPhone. Para que se tenha uma ideia do impacto que essa abertura de protocolos técnicos tem na oferta, em Julho de 2008, havia 500 aplicações disponíveis na loja "online" da Apple. Em Dezembro de 2008, esse número já era de 10.000!

Em resumo, o que se pretende nesta área é que exista um ambiente de protocolos técnicos que favoreçam o aparecimento e a distribuição em massa de aplicações e conteúdo de alto valor acrescentado para o cliente final. Uma potencial vantagem competitiva que possuem as operadoras com presença noutros segmentos é o poderem alavancar conteúdo próprio, como o de televisão, para desenhar uma oferta diferenciada. Em Portugal, esta tem sido uma das apostas recentes da PT (com o Meo Mobile), e da Optimus (com o Mobile TV). Outra área com potencial é a da música, especialmente através de aplicações que giram à volta de novos modelos de negócio como o "Spotify" ou o "Last.fm".

Uma terceira barreira para a adopção dos serviços de Internet móvel prende-se com o desconhecimento que muitos utilizadores têm das potencialidades dos novos aparelhos e das aplicações às quais podem aceder. Esta é claramente uma área onde as operadoras podem e devem actuar. A Telstra, na Austrália, é um excelente exemplo de uma operadora que lançou com sucesso uma série de iniciativas para aumentar o consumo de conteúdos e serviços móveis. No último ano, as receitas totais de serviços móveis da companhia cresceram 12%, tendo estes (excluindo SMS) assistido a um crescimento de 33%. Através de uma redefinição da experiência de compra nas suas lojas T [Life], a operadora conseguiu igualmente aumentar a taxa de conversão de venda em 50%, e através de um "up-selling" agressivo, apoiado em processos avançados de "data mining", conseguiu ainda aumentar as receitas médias dos clientes das lojas-piloto em 40%.

Por último, há uma barreira de preço, especialmente relevante para alguns segmentos do mercado, como os jovens. A publicidade aqui é vista como uma das tábuas de salvação no futuro, já que ainda não existe um modelo totalmente viável de publicidade para grande parte do conteúdo da Internet móvel. Para alguns observadores do sector, o facto de estarmos habituados a usufruir de grande parte do conteúdo e de serviços na Internet fixa sem ter que pagar por estes faz com que sejamos mais sensíveis ao preço da Internet móvel. Mas esta é uma questão que provavelmente será resolvida a seu tempo, devendo agora as operadoras focar-se em converter e manter clientes que podem e estão dispostos a pagar pelo serviço.

Em conclusão, as dinâmicas de mercado parecem ser bastante favoráveis ao crescimento da Internet móvel, tendo as operadoras actualmente o grande desafio de criar e promover, de uma forma eficaz, um pacote de serviços que ofereça uma proposta de valor mais atractiva e que alavanque, na medida do possível, e num contexto de convergência, conteúdo e serviços que possuem noutros segmentos. Ganhar decisivamente a batalha competitiva da Internet móvel pode ser a diferença entre crescer marginalmente ou ganhar uma posição de liderança sólida.

Manager da Bain & Company

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