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Não é a arte da "guerra". É o jogo da partilha

A Sonangol é uma maior accionista do BCP, com 11,5% do capital. Os chineses, aparentemente, estão interessados em comprar uma posição no banco.

A Sonangol é a maior accionista do BCP, com 11,5% do capital. Os chineses, aparentemente, estão interessados em comprar uma posição no banco. À partida, esta atitude poderia ser considerada hostil à petrolífera angolana e prenúncio de uma "guerra" pelo controlo do BCP. Puro engano. As relações entre Angola e a China são recentes, mas firmes e feitas de muitas cumplicidades.

No início de década de 90, quando o Clube de Paris cortou o financiamento a Angola, José Eduardo dos Santos virou-se para a China. Pequim assegurou liquidez a Luanda (petróleo por dólares) e esta esqueceu os tempos em que a China apoiou, primeiro o FNLA e depois a UNITA, opositores do MPLA. Por isso mesmo, só tardiamente, em 1983, é que os dois países estabeleceram relações diplomáticas.

Hoje, a China é o principal parceiro comercial de Angola e a Sonangol tem sido a sua porta de entrada no país. O casamento tem sido profícuo e até agora a petrolífera e as autoridades de Pequim criaram uma complexa teia de relações comerciais onde gravitam, pelo menos, 48 empresas, de acordo com o relatório "Sede de Petróleo Africano – Petrolíferas Nacionais Asiáticas na Nigéria e Angola", elaborado pela Chatham House.

O BCP pode ser, assim, um ponto de convergência entre angolanos e chineses. Ambos olham para Portugal como porta de entrada da Europa e a actividade internacional do banco assegura-lhes a penetração noutros mercados. Aliás, com a compra de 21,35% da EDP por parte da Three Gorges ainda fresca, convém recordar que a eléctrica portuguesa tem em vigor um acordo de cooperação com a Sonangol. Outro sinal desta sintonia é o facto dos angolanos não terem colocado quaisquer reservas ao facto da chinesa Sinopec ter comprado 30% da subsidiária da Galp no Brasil.

Por outro lado, as empresas de ambos os países seguem orientações que são estabelecidas num círculo restrito de poder e são determinadas por critérios políticos. Os interesses de Angola e da China complementam-se. A grande diferença é que a crise europeia (e particularmente a portuguesa) abriu espaço para que este jogo de geo-estratégia se transferisse do tabuleiro para o terreno. E só agora começou.

Visto por dentro é um novo espaço de opinião que será assegurado diariamente pelos seguintes jornalistas do Negócios: Alexandra Machado, André Veríssimo, Celso Filipe, Elisabete Miranda, Eva Gaspar, Manuel Esteves, Nuno Carregueiro, Pedro Esteves, Rui Neves e Rui Peres Jorge.

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