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Pedro Santos Guerreiro psg@negocios.pt
09 de Abril de 2009 às 12:00

O aero plano

O diálogo é adaptado de "Aeroplano", o hilariante filme de 1980. Nessa altura, já em Portugal havia estudos para o novo aeroporto. Trinta anos depois, continua a ser só cinema. Mas começa a ser ridículo discutirmos o que eternamente inexiste.

"- Depressa, reúna toda a gente no aeroporto!"

- Mas nós não temos aeroporto...

- Isso não é importante neste momento."

O diálogo é adaptado de "Aeroplano", o hilariante filme de 1980. Nessa altura, já em Portugal havia estudos para o novo aeroporto. Trinta anos depois, continua a ser só cinema. Mas começa a ser ridículo discutirmos o que eternamente inexiste.

Esta semana, o processo teve um novo arranque, com a apresentação de um novo "novo aeroporto", esperando-se que tenha sido uma falsa "falsa partida". Já não há paciência para a não construção do novo aeroporto de Lisboa. Nem paciência nem racionalidade económica.

Estava prevista a apresentação este mês do lançamento da privatização da Ana, da concessão do aeroporto e do novo modelo regulatório (essencial, até porque definirá a política de taxas). Dos três assuntos, avançou meio: a pré-qualificação de candidatos. Depois dos pré-qualificados será aberto o concurso, o que dificilmente acontecerá nesta legislatura. E não antes do próximo ano será anunciado o vencedor, certamente já pelo próximo Governo.

Empurrou-se o concurso com a barriga, provavelmente por razões de financiamento (hoje seria impossível garantir os perto de três mil milhões envolvidos na primeira fase, além dos dois mil milhões da segunda fase). Provavelmente também por razões políticas: uma adjudicação "in extremis" seria óleo de fritura em eleições, que a Oposição cozinharia em lume alto.

É um erro produzir sentenças para todo o conjunto de infra-estruturas anunciadas, lançadas e concessionadas pelo Estado. A conta final, de 40 mil milhões de euros, é impressionante mas contém um cocktail com novo aeroporto, alta velocidade, estradas, barragens, plataformas logísticas, escolas, hospitais, terceira travessia sobre o Tejo. Dizer que isto é tudo "bom" ou que é tudo "mau" é um anátema inútil.

Mas é também incompetente aprovar o aeroporto de Alcochete sem contestar tudo o que lhe está relacionado. O TGV, por exemplo: qualquer dia passa a metropolitano, de tanto pára-arranca. Não se percebe por que se haveria de gastar centenas de milhões para fazer um desvio na linha para Madrid que o levasse a Alcochete. Só a estação custa mais de 200 milhões, basta um "shuttle".

O aeroporto tem menos risco que o TGV (e custa metade): a previsibilidade da procura é maior, logo, o seu retorno está mais assegurado (provavelmente a 40 anos). Já se sabe que é em Alcochete. Já se tem a certeza de que o projecto é dependente da privatização da Ana. Já se percebeu até que, com este Governo, a Ana será privatizada como um todo, sem regionalismos que sosseguem alguns empresários do Norte. Mas falta ainda completar o "puzzle": saber o modelo e a percentagem de privatização da Ana; conhecer o contrato de concessão; aprovar o modelo regulatório.

Sobretudo: é preciso perceber o que se quer do aeroporto. Não é um monte de betão, é um negócio. Não é uma pista para aviões, é um modelo de desenvolvimento. O que será feito na cidade aeroportuária? Casinos, como já estudou Augusto Mateus? Hotéis, centros de negócios? Que relação com as plataformas logísticas? Carga?

A pior das decisões é a indecisão. Se lá houvesse um muro que fosse, já alguém tinha escrito em Alcochete o que escreveu em Alqueva: construam-no, po... r favor.

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