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A. Hipólito de Aguiar
22 de Março de 2004 às 16:24

Os medicamentos genéricos e a qualidade

O recente incremento do consumo de medicamentos genéricos em Portugal lançou alguns comentários, particularmente da classe médica, sobre a qualidade dos mesmos uma vez que, recorde-se, são significativamente mais baratos que o medicamento original ...

O recente incremento do consumo de medicamentos genéricos em Portugal lançou alguns comentários, particularmente da classe médica, sobre a qualidade dos mesmos uma vez que, recorde-se, são significativamente mais baratos que o medicamento original (o que é proveniente da investigação original e que após 20 anos perderá a patente possibilitando a introdução do medicamento genérico).

Esta análise poderia ter algum fundamento se estivéssemos a referirmo-nos a bens de utilização comum. Tratando-se de medicamentos o preço não é, em nenhuma circunstância, proporcional à qualidade do produto.

É que o complexo sistema que conduz à introdução de um medicamento no mercado é totalmente certificado, quer pelos mecanismos de garantia de qualidade da própria Indústria Farmacêutica quer pelas agências oficiais que tutelam o sector do medicamento aquando do processo de licenciamento.

No intuito de analisar este aspecto, foi recentemente produzido um primeiro estudo, por uma entidade não produtora de medicamentos nomeadamente o Laboratório de Estudos Farmacêuticos da Associação Nacional das Farmácias, que analisou a qualidade de mais de uma centena de lotes (conjunto de medicamentos produzidos, num determinado período de tempo, com as mesmas matérias primas e sob as mesmas condições), de medicamentos genéricos em diversas formas (comprimidos, soluções, pomadas, etc.).

Em 98% das situações, os medicamentos genéricos analisados mostraram ser rigorosamente iguais aos medicamentos de marca, e em apenas 2% dos casos existiam desvios, não significando contudo que esses mesmos fármacos não pudessem ser comercializados no mercado por falta de qualidade.

A qualidade dos medicamentos, independentemente de serem genéricos ou não, é, pois, um parâmetro fundamental de apreciação para a sua existência nos mercados, obrigando as empresas a avultados investimentos nas suas estruturas produtivas.

Mas não só a Indústria Farmacêutica têm, nesta matéria, particulares responsabilidades como igualmente toda a cadeia de distribuição do medicamento, desde o produtor ao grossista e ao retalhista (farmácia) cumpra com os requisitos legalmente exigidos.

No entanto a garantia de qualidade não se esgota após o medicamento chegar às “mãos” do consumidor já que existe um sistema, denominado de farmacovigilância, coordenado pelas autoridades oficiais, que concorre  igualmente para aumentar os níveis de conhecimento das acções do fármaco e que permite a detecção de situações anormais como sejam a ocorrência de efeitos secundários não descritos na literatura interna do medicamento, entre outras.

Como farmacêutico julgo que posso transmitir, de viva voz, ao consumidor de medicamentos que a qualidade é de facto um compromisso assumido por todos os protagonistas do sector farmacêutico e que por isso mesmo deve estar totalmente tranquilo sobre a qualidade dos produtos que consome.

Aos profissionais de saúde lanço o repto de, não só terem a preocupação de se documentarem suficientemente sobre esta questão, como igualmente elucidarem convenientemente o paciente / doente por forma a que este não tenha qualquer receio de utilizar um medicamento genérico.

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