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Pedro Dionísio
13 de Maio de 2012 às 23:30

Um projecto global com raízes locais

Encontrámos uma realidade multifacetada, conjugando um projecto global com as raízes locais, um desafio onde o futebol se insere num contexto de responsabilidade social.

Quando o leitor estiver perante este artigo, feito na 6.ª feira, espera-se que o Manchester City seja já campeão da 1.ª Liga Inglesa, pelo que o respectivo título poderia bem ser "Um campeão – um projecto global com raízes locais".

Gostaria de partilhar convosco que descobri uma outra face do Manchester City, na visita de estudo que fiz o mês passado ao City, com os alunos do Mestrado Executivo de Marketing e Gestão do Desporto do INDEG-ISCTE, onde, aliás, fomos muitíssimo bem recebidos por dois quadros portugueses da estrutura comercial/marketing do City.

Sobre o passado recente deste clube, o que tem passado para a opinião pública internacional é a figura, mais ou menos discreta, de um sheik árabe de Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos, que decidiu colocar umas centenas de milhões de libras num clube de futebol inglês, o que justificaria esta ascensão que se tem vindo a verificar.

Contudo, o que encontrámos foi uma realidade multifacetada, conjugando um projecto global com as raízes locais, um desafio onde o futebol se insere num contexto de responsabilidade social.

A surpresa começou ao chegarmos ao estádio, onde encontrámos centenas de fãs com uns recipientes do tipo balde, na mão, a fazer um peditório para um hospital pediátrico – descobrimos, depois, que o clube tinha começado como uma instituição de solidariedade social e que mantinha ainda bem forte essa vocação social que vem desde 1880, muito antes de ter início a equipa de futebol.

No final do jogo, quando é comum que as estrelas dos grandes clubes se afastem dos seus adeptos, vimos, apenas 10 minutos após o final do jogo, o capitão da equipa deslocar-se à "Praça de Activação" (dos patrocinadores) para responder ao vivo às perguntas dos fãs, feitas "in loco" ou via internet; e tudo isto, apesar de o resultado do jogo se ter pautado por um desolador empate caseiro.

Além deste respeito pelas raízes locais, próprio de uma certa cultura árabe, assistimos também à preocupação de activar o patrocínio das companhias de Abu Dhabi, designadamente da sua companhia aérea Ethiad, que dá o nome ao Estádio e às camisolas dos jogadores, de forma que utilize a marca City para alavancar as marcas do próprio país.

Pessoalmente não sou favorável ao modelo de compra dos clubes portugueses por parte de investidores estrangeiros, porque considero que tal viria reduzir o envolvimento do clube com os adeptos, transformando-os em "simples" clientes – enquanto as empresas gostariam de ter fãs Mas o contraste entre esta atitude e a reacção que provocou a entrada dos investidores americanos no vizinho Manchester United é gritante! No United pudemos constatar manifestações de desagrado dos adeptos, tendo sido criado um clube alternativo por parte dos que consideraram que o antigo clube havia perdido a sua alma.

Num momento em que alguns clubes portugueses procuram, no exterior, soluções financeiras para os prejuízos acumulados, será bom que as soluções encontradas não sejam do tipo Servete, na Suíça, ou Manchester United, mas antes do género do que se passou com o Manchester City, salvaguardando a cultura e as raízes locais.

Director do Mestrado de Marketing e Gestão do Desporto do INDEG-ISCTE

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