Paola Subacchi 06 de Janeiro de 2016 às 20:30

O yuan põe-se em marcha

Não há dúvidas de que a China fez grandes progressos num período de tempo relativamente curto. Desde 2009, a proporção das operações comerciais da China denominadas em yuan aumentou de menos de 1% para mais de 20%.

O prémio Nobel Robert Mundell disse uma vez que "as grandes potências têm grandes moedas". A China, cujo governo Mundell aconselhou durante muito tempo, levou esta ideia muito a sério, insistindo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que este adicionasse o yuan ao seu cabaz de moedas que determina o valor dos activos de reserva do FMI, Direito de Saque Especial (SDR, na sigla anglo-saxónica). O FMI decidiu fazê-lo, naquilo que constituiu um enorme voto de confiança na capacidade da China de desempenhar um papel importante nas finanças internacionais.

 

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Contudo, muitos agentes do mercado continuam cépticos acerca desta decisão. O yuan fará parte da mesma categoria do dólar americano, do euro, do iene japonês ou da libra britânica no sistema monetário internacional?

 

Não há dúvidas de que a China fez grandes progressos num período de tempo relativamente curto. Desde 2009, a proporção das operações comerciais da China denominadas em yuan aumentou de menos de 1% para mais de 20%. E o yuan ocupa agora o quarto lugar das moedas mundiais utilizadas para pagamentos internacionais. 

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Mas a quota de 3% do yuan nos pagamentos globais está muito aquém da do dólar (45%) e do euro (27%). Além disso, o crescimento da utilização do yuan em operações comerciais tem-se concentrado na região da Ásia-Pacífico e, especificamente, nas transações entre a China e os seus vizinhos. E a procura por activos denominados em yuan permanece relativamente baixa. Apenas 1,5% dos depósitos bancários realizados em yuan são fora da China.

 

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O contraste entre o yuan e as suas homólogas SDR é gritante. O mercado de títulos offshore do yuan representa apenas 0,5% do total mundial, com 40% emitido em dólares, 41% em euros, quase 10% em libras e 2% em ienes. O valor dos empréstimos denominados em yuan – 188 mil milhões de yuan (cerca de 26,5 mil milhões de euros) – é pequeno, especialmente considerando que quase 50% dos passivos bancários internacionais são denominados em dólares, cerca de 30% em euros, 5% em libras, e cerca de 3% em ienes. E o yuan representa de 0,6% a 1% das reservas cambiais globais detidas por bancos centrais, ao passo que o dólar e o euro representam 62% e 23%, respectivamente.

 

Em suma, ao contrário do resto das moedas do cabaz do FMI, o yuan é uma moeda internacional em formação, assim como a China é uma potência económica e financeira em formação. De facto, como a maioria dos países em desenvolvimento, a China continua a ser um "credor imaturo", que empresta principalmente em dólares; e se precisar de pedir emprestado nos mercados internacionais, terá de emitir a maior parte da sua dívida em dólares, não em yuan. Claramente, a posição da China no mercado financeiro internacional não corresponde ao seu estatuto no comércio internacional.

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No entanto, há uma sensação clara de que o yuan se vai tornar um jogador-chave nos mercados financeiros globais. Afinal, ao contrário de outros países em desenvolvimento - mesmo os grandes, como o Brasil, a Índia e a Rússia - a China tem uma economia que é grande o suficiente para fornecer massa crítica para o desenvolvimento da sua moeda.

 

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Além disso, os líderes chineses estão determinados a avançar com reformas - especialmente ao nível do sector bancário e das empresas estatais - que vai ajudar a impulsionar este desenvolvimento. Deixaram claro que um de seus objectivos principais para os próximos cinco anos é o de reduzir o fosso entre a posição internacional do yuan e das "grandes moedas" mundiais, promovendo a utilização do yuan muito além da região Ásia-Pacífico.

 

É importante notar, porém, que os líderes chineses não parecem apontar para a possibilidade de o yuan vir a substituir o dólar como moeda internacional dominante. A sua abordagem - baseada na crença de que um sistema monetário internacional mais diversificado e, portanto, mais líquido, contribuiria para uma economia global mais equilibrada e menos volátil - é mais pragmática. Antecipando a passagem de um sistema baseado no dólar (e, mais amplamente, dominado pelos EUA) para um sistema multipolar de várias moedas, os líderes chineses estão a preparar o caminho para que o seu país ( e a sua moeda) alcance uma posição de topo, ao lado de outras grandes potências.

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Esta meta parece atingível. Com efeito, a avaliação da directora do FMI, Christine Lagarde, às hipóteses de o yuan se juntar ao cabaz de moedas do FMI no início do ano passado – "a questão não é se, mas quando" – parece aplicar-se também à ascensão financeira da China. Ainda que alguns países – os Estados Unidos e o Japão, em particular – não estejam entusiasmados com isso, é difícil negar o que parece inevitável (nenhum dos países se opôs formalmente à decisão do FMI). E, à medida que a China ganha mais poder financeiro, o seu papel na governança económica global também cresce.

 

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Considerando tudo isto, não é surpreendente que a reforma do sistema monetário internacional e a sua governação seja um dos destaques da cimeira do G-20 deste ano, organizada pela China, que deterá a presidência rotativa do grupo. Ainda não é clara a forma como a China vai dar forma ao debate. Mas o simples facto de acontecer na reunião do G-20, e não do G-7, envia uma mensagem clara de que o sistema económico e monetário global está a mudar no bom sentido. 

Paola Subacchi, directora de pesquisa de Economia Internacional na Chatham House, é a autora de "The People’s Money: How China Is Turning the Renminbi into a World Currency" (Columbia University Press).

 

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Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015. 

www.project-syndicate.org

Tradução: Rita Faria

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