O mecanismo à portuguesa
Todos nos inquietamos que Manuel Pinho tenha alegadamente recebido uma renda de um grupo privado através de vários offshores antes de ser ministro da Economia e enquanto o foi, mas só a justiça e o Parlamento o podem chamar à pedra.
Inquietamo-nos ainda mais perante a suspeita de que essas rendas poderão ter facilitado outras, na energia, e que todos pagamos enquanto consumidores. Além, claro, de outros negócios que o ministro poderá ter ajudado a promover e que se tiverem sido norteados por critérios que não o da racionalidade económica foram lesivos para os contribuintes e o país.
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Depois de vermos um primeiro-ministro acusado de corrupção num imenso polvo, já pouco nos impressiona. Mas a hipótese de ter havido um ministro a soldo acrescenta mais uns graus à gravidade do que foi sendo desvendado nos últimos anos. Não só pelo acto em si, mas porque nos transporta mais longe na percepção de uma prática alargada. Nos governos de Sócrates e quem sabe noutros.
É a diferença entre um ou outro caso isolado e um anátema sobre a classe política. O PCP vem pedir, naturalmente, uma "avaliação abrangente" das ligações dos governos PSD, PS e CDS a grupos económicos na energia, na banca, correios, telecomunicações ou transportes.
Percebe-se que Manuel Pinho queira conhecer primeiro o que o Ministério Público tem, ou não, para o confrontar e só depois falar no Parlamento. Do que o MP não tiver, Manuel Pinho não falará. É uma estratégia de defesa. Mas o silêncio deixa uma pesada sombra a pairar sobre si e sobre o sistema político português.
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Tudo isto é demasiado crítico para ser tratado como número de circo numa comissão de inquérito ou maltratado pela justiça.
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