pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque
André Veríssimo - Diretor averissimo@negocios.pt
03 de Novembro de 2014 às 09:43

Sem dor não há cura

A imagem de credibilidade dos testes é essencial para dinamizar a concessão de crédito à economia.

 

Como certas terapias, que quando doem é sinal de que estão a fazer bem, um número considerável de chumbos veio ajudar à credibilidade dos testes de stress à banca. Disso dependiam os efeitos virtuosos que se podiam conseguir com o exercício.

Os dois testes de stress anteriores, realizados em 2010 e 2011, tinham sido recebidos com algum cepticismo. Que os problemas surgidos em várias instituições que passaram no exame mostraram ser inteiramente justificado. A nacionalização do Dexia, o resgate ao Bankia ou a resolução dos bancos cipriotas mancharam a reputação da prova.

Para reforçar a credibilidade deste último exame, que marca a transição do BCE para o papel de supervisor único europeu, ele foi acompanhado por um exame exaustivo à qualidade dos activos dos bancos. Que na prática passou por perceber se o risco de perdas na carteira de crédito estava devidamente provisionado pelas instituições. Passou também por aqui a detecção dos problemas do BES: só por si uma prova da validade desta abordagem.

A sujeição do balanço de 130 instituições a um cenário de adversidade económica e financeira resultou em 25 chumbos, mais 17 do que no teste anterior. Destes, 13 estão obrigados a tomar medidas para reforçar o capital numa soma total de 9,5 mil milhões de euros. Ao contrário de exercícios anteriores, desta vez ficou exposta a fragilidade que subsiste no sistema bancário de alguns países, com a Itália à cabeça. O mais importante é que o teste foi considerado suficientemente credível.

Essa credibilidade é fundamental para reforçar a confiança dos investidores no financiamento à banca. Condição para que esta possa também dar mais crédito à economia sem depender da liquidez do BCE. Da seriedade com que o exame é encarado depende a possibilidade de bancos da periferia do euro, como o BPI, capitalizarem o bom resultado obtido.

Os testes de stress são apenas um dos pontos na estratégia de reforço da confiança no sistema bancário da Zona Euro. A criação do Mecanismo Único de Supervisão, que retira da alçada dos reguladores locais os bancos de importância sistémica e os passa para o BCE, também vai nesse sentido, ao aumentar a independência do escrutínio a que são sujeitos.

Para reanimar o crédito à economia, Mario Draghi e o restante conselho de governadores aprovaram novas linhas de empréstimo de longo prazo à banca e a compra de titularizações de dívida. Mas continua a faltar o que realmente importa: os empresários sentirem confiança para investir e criar emprego. Os sinais de travagem da economia alemã e as debilidades estruturais de Itália e França são o maior entrave. 

Ver comentários
Ver mais
Publicidade
C•Studio