O admirável mundo novo, sobre o qual escreveu Aldous Huxley na primeira metade do século, mostra que a ficção acaba sempre, cedo ou tarde, por ser ultrapassada pela realidade. Nesse livro, Huxley prognosticava uma sociedade regida pela tecnologia e de natureza totalitária, maquilhada com tons de democracia e felicidade, uma descrição que por estes dias encontra amparo na realidade. A tecnologia está a tornar-se absolutamente dominante e nas redes sociais, que se oferecem como espaços plurais, fermentam os mais diversos totalitarismos. A crise económica que se viveu (e ainda faz mossa), a globalização e as migrações serviram de rastilho para acender um novo discurso político que ganha escala nas referidas redes sociais. O pensamento de Huxley, "os súbditos do ditador do futuro serão governados sem sofrimentos por um corpo de engenheiros sociais altamente instruídos", ameaça tornar-se palpável.