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Agricultura nacional ganha mais de 2 mil milhões de euros por ano com polinizadores

A conclusão é de um estudo da Universidade de Coimbra, que quantifica pela primeira vez o impacto económico da polinização e alerta para ameaças crescentes.

20:31
Polinizadores contribuem para ganhos da agricultura
Polinizadores contribuem para ganhos da agricultura Miguel Baltazar
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Pela primeira vez, Portugal tem uma estimativa concreta do valor económico gerado pelos polinizadores. Um estudo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) conclui que insetos como as abelhas selvagens ou as moscas-das-flores asseguraram mais de 2 mil milhões de euros à agricultura nacional em 2023. Desse total, 1,1 mil milhões de euros resultam diretamente da ação dos polinizadores.

A investigação, publicada na revista Regional Environmental Change e conduzida por cientistas do FLOWer Lab, analisou o peso da polinização em dezenas de culturas nacionais. A equipa composta por Catarina Siopa, Hugo Gaspar, Helena Castro, João Loureiro e Sílvia Castro conclui que 54% das culturas agrícolas produzidas no país dependem destes insetos.

Catarina Siopa, primeira autora do estudo, explica que “o valor económico calculado tem origem não só nas culturas altamente dependentes da polinização como também nas culturas com menor grau de dependência, mas de grande importância económica”. Entre as produções mais beneficiadas estão a maçã, framboesa, pera, abacate, tomate industrial, mirtilo, amêndoa, kiwi, laranja e o morango.

Mas o impacto vai além do volume produzido e afeta, de acordo com os autores, a qualidade nutricional, o tempo de prateleira e a capacidade de conservação dos produtos agrícolas, fatores que contribuem para a competitividade do setor. 

Apesar de a área agrícola total em Portugal ter diminuído 49% desde 1980, a área dedicada a culturas dependentes de polinizadores aumentou 36% na última década. A tendência, diz o estudo, reflete a aposta em produções mais rentáveis, como frutas frescas, frutos secos e hortícolas, que exigem polinização para manter rendimento e qualidade.

Contudo, a equipa identifica também riscos que o setor não deve ignorar, nomeadamente os relacionados com a intensificação da exploração agrícola, simplificação da paisagem, alterações climáticas e a urbanização, que ameaçam diretamente as populações de polinizadores. Se afetados, estes insetos podem gerar défices de polinização com impacto económico significativo. 

“Os polinizadores são um verdadeiro pilar da economia agrícola nacional. Sem eles, muitas das culturas mais valiosas em Portugal deixariam de ser economicamente viáveis”, alerta a investigadora Sílvia Castro.

Os autores defendem que os resultados apresentados fornecem uma base científica sólida para ajudar no reforço de políticas agrícolas e ambientais que integrem medidas de conservação de polinizadores. Entre elas, a gestão agrícola, os programas de apoio ao setor e o ordenamento do território. Só assim, concluem, será possível garantir a resiliência e sustentabilidade da agricultura portuguesa nos próximos anos.

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