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Cientistas contestam relatório climático norte-americano por falta de rigor científico

Numa revisão assinada por mais de 85 cientistas, são dirigidas críticas a um documento que consideram que não representa o consenso científico em torno das alterações climáticas.

02 de Setembro de 2025 às 19:12
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seca, tempo, alterações climáticas, clima Nuno Alfarrobinha
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Mais de 85 cientistas, liderados por Andrew Dessler, da Universidade Texas A&M, e Robert Kopp, da Universidade Rutgers, apresentaram uma revisão crítica ao recente relatório climático do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE). Com mais de 400 páginas, o documento contestado foi elaborado por um grupo de cinco cientistas com visões contrárias ao consenso científico sobre as alterações climáticas.

Os cientistas críticos afirmam que o relatório falha em representar, de forma adequada, o entendimento científico atual sobre as mudanças climáticas e consideram mesmo que a intenção é promover uma perspetiva alinhada com a liderança daquele organismo. "Não parece ter sido feito nenhum esforço para equilibrar os pontos de vista representados no grupo de trabalho. Em vez disso, este grupo parece ter sido recrutado pessoalmente pelo Secretário de Energia para promover um ponto de vista particular alinhado com a liderança do DOE", afirmam os cientistas na revisão.

De acordo com o The Guardian, o Secretário da Energia norte-americano, Chris Wright, defende o relatório e disse acreditar nas alterações climáticas, mas considera necessário promover mais debate público sobre o tema. "Revi o relatório cuidadosamente e acredito que representa fielmente o estado da ciência climática hoje", afirma, acrescentando que, "ainda assim, muitos leitores podem ficar surpreendidos com as conclusões, que diferem de forma importante da narrativa predominante".

Os cientistas críticos apontam ainda que o DOE se terá apoiado excessivamente em estudos desacreditados, além de ter interpretado de forma errada outros estudos e de ter falhado em promover um processo de revisão por pares para garantir credibilidade. Em sentido contrário, relatórios como o do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Avaliação Climática Nacional dos EUA, que envolvem milhares de autores e passam por revisões independentes, refletem que as alterações climáticas estão a agravar-se e a provocar impactos visíveis em todo o mundo.

"O relatório privilegia as visões desatualizadas de dissidentes individuais em vez do consenso dos cientistas", afirma Andra Garner. "O relatório visa apoiar uma decisão política específica e não é uma síntese imparcial da ciência climática”, conclui a cientista climática.

A controvérsia em torno deste novo relatório surge no seguimento de várias medidas tomadas pelos responsáveis políticos norte-americanos no sentido de desvalorizar as questões climáticas e os seus efeitos na saúde. Nos últimos meses, os EUA os limites às emissões de CO2 aplicadas a automóveis, pressionaram parceiros internacionais a inviabilizar metas para a descarbonização do transporte marítimo e até o sobre a poluição causada pelo plástico. 

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