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Incêndios agravam poluição da água durante vários anos

Estudo norte-americano revela aumentos de até 300 vezes nos níveis de sedimentos, nutrientes e matéria orgânica após fogos florestais.

14 de Julho de 2025 às 17:37
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Os incêndios florestais têm efeitos devastadores muito para além das árvores queimadas e das casas destruídas, aponta um  recentemente publicado. O documento mostra que as consequências sobre a qualidade da água podem durar até oito anos, com aumentos drásticos nos níveis de sedimentos, nutrientes e matéria orgânica dissolvida, afetando tanto os ecossistemas aquáticos como a segurança do abastecimento urbano.

A investigação analisou dados recolhidos entre 1984 e 2021 em 538 bacias hidrográficas no oeste dos Estados Unidos, das quais 245 foram afetadas por incêndios e 293 sem ocorrências. Os autores demonstram que “as concentrações médias de carbono, azoto e fósforo nos anos de pico após o fogo são entre três e 103 vezes superiores aos níveis pré-incêndio, e as de sedimentos entre 19 e 286 vezes maiores”.

Os efeitos mais fortes ocorrem nos primeiros três anos após o fogo, mas há constituintes, como os nitratos, que permanecem elevados por mais de oito anos. “As concentrações médias residuais de azoto inorgânico dissolvido e de nitrato mantiveram-se significativamente elevadas durante cinco e oito anos, respetivamente”, lê-se no artigo.

A análise permitiu ainda perceber como as características locais podem influenciar a dimensão da contaminação. “A cobertura florestal em cada bacia mostrou relações significativamente positivas com os aumentos de carbono orgânico total, carbono orgânico dissolvido, nitratos e sedimentos suspensos”, referem os investigadores. O mesmo acontece às zonas urbanizadas, associadas a valores mais elevados de fósforo e matéria orgânica, possivelmente devido a “depósitos de emissões fósseis em áreas próximas de cidades”.

No primeiro ano após um incêndio, os níveis de matéria orgânica, fósforo e sólidos suspensos atingiram valores entre 3.200% e 28.500% superiores às médias registadas em períodos anteriores. 

“As respostas prolongadas devem-se, provavelmente, a forças erosivas persistentes causadas pela perda da cobertura vegetal e das raízes, o que origina instabilidade do solo e demora anos a recuperar”, aponta o estudo. No caso dos sedimentos, há ainda um fator adicional a considerar, nomeadamente os “deslizamentos de terra superficiais”.

A persistência da degradação sugere impactos mais profundos do que o esperado pelos investigadores, que dizem que “estes efeitos de longo prazo indicam que, em média, os incêndios afetam camadas mais profundas do solo, queimam estruturas vegetativas maiores e interrompem os ciclos de nutrientes de forma mais intensa do que se supunha anteriormente”.

As implicações para a gestão de recursos hídricos são claras e devem ser tidas em conta, defendem os autores. “As entidades gestoras da água podem considerar os valores de magnitude e duração aqui identificados como referências para planeamento, preparando-se para entre um e oito anos de cargas elevadas de contaminantes”, sublinham. 

Com a intensificação dos fogos no oeste dos EUA nas últimas décadas, e com as projeções de agravamento impulsionadas pelas alterações climáticas, os autores alertam para a necessidade de adotar respostas mais robustas. “Os nossos resultados demonstram evidências sólidas de degradação significativa e persistente da qualidade da água induzida por incêndios, com implicações diretas para a resiliência dos sistemas de abastecimento”, concluem.

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